Marina não acredita em promessas de conservação ambiental do governo Bolsonaro COP26

Marina não acredita em promessas de conservação ambiental do governo Bolsonaro


Em entrevista ao jornalista Jamil Chade, na estreia do programa Cruzando Fronteiras, no Canal MyNews, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse não acreditar que o governo Bolsonaro vai realmente se comprometer com as metas ambientais propostas em Glasglow, na Escócia, onde acontece, até o próximo dia 12 de novembro, a Conferência do Clima da ONU (COP26). Para Marina Silva, a credibilidade do governo brasileiro atualmente é inexistente quando se trata de pautas ambientais.

“A credibilidade é zero. O governo Bolsonaro fez algo que é completamente irracional. É como se você tivesse uma árvore, tivesse que limpar um galho que está à tua frente. Você cerrasse o galho e deixasse ele bem fraquinho e depois tivesse que pular para ele. Foi isso que o governo Bolsonaro fez. Durante esses quase três anos do seu governo, ele ficou cerrando o galho da credibilidade, da proteção ao meio ambiente, da governança ambiental, da alocação de recursos. Tudo o que ele podia fazer para desconstruir o que ele encontrou e ainda agravar mais a situação, ele fez. Agora ele tenta recuperar isso sem nenhuma credibilidade de que terá como dar sustentação ao peso desses compromissos que assumiu”, analisou a ex-ministra brasileira.

Marina Silva
Marina Silva foi a primeira entrevistada de Jamil Chade no Cruzando Fronteiras/Imagem: Reprodução/Canal MyNews

Marina lembrou que diante do que já havia sido acordado na conferência de Paris, já existia um deficit em relação às metas ambientais e se o Brasil quisesse dar a contribuição que a gravidade do problema exige, no intuito de alcançar o patamar máximo de aumento da temperatura global em até 1,5ºC, em comparação com a temperatura do mundo na era pré-industrial, o compromisso assumido pelo país deveria ser uma redução na emissão de gases de efeito estufa de 80%, e não de 50% – como foi anunciado.

“Mas mesmo assim, ele [Bolsonaro] deu a pedalada e depois ele retoma o que foi acordado em Paris, mas não tem credibilidade. Qualquer meta precisa ser acompanhada de como se vai fazer. O governo Bolsonaro se especializou em fazer anúncios vazios para ganhar tempo de fazer mais queimadas, mais desmatamentos e mais emissão [de gases]”, pontuou Marina Silva.

O jornalista Jamil Chade – que está na Escócia fazendo a cobertura da COP26, com flashes diários para o Canal MyNews – lembrou que na conferência os especialistas em meio ambiente têm chamado o Brasil de “Black Friday” – numa referência as promoções realizadas no final de novembro nos Estados Unidos, por ocasião do Dia de Ação de Graças.

“Muitas pessoas destacaram que o Brasil agiu como a Black Friday, em que muitas lojas elevam os preços alguns dias antes e depois anunciam uma promoção de 50%. Assim, alcançar as metas fica fácil. Outro ponto que gerou desconfiança aqui em Glasglow foi quando o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, mostrou uma perspectiva de queda do desmatamento em linha reta nos próximos anos e os especialistas dizem que é impossível que a redução do desmatamento aconteça em linha reta”, explicou Jamil Chade.

Marina Silva considera que o governo Bolsonaro se comprometeu com algumas metas apenas para ganhar tempo. “O que ele faz é isso: anuncia o Conselho da Amazônia e ganha tempo para desmatar mais e queimar mais. Agora ele faz o mesmo movimento, por pressão internacional e pressão interna brasileira, que é muito grande. A falta de credibilidade do governo é algo irreversível.

Para Marina Silva é preciso recompor a legislação ambiental e fortalecer as políticas públicas

Para a ativista ambiental, ex-senadora e ex-ministra é difícil estabelecer um prazo para que o desmonte nas políticas ambientais possam ser mitigados e revertidos, pois não se têm a total ideia do que representa esse desmonte.

“O que precisa fazer é recompor os orçamentos do Ministério do Meio Ambiente, do Ibama e do ICMBio, recompor o quadro técnico, parar de sinalizar que vai mudar a legislação para tornar legal o ilegal. Uma corrupção normativa para mudar a lei. Deixar de perseguir as comunidades indígenas e alinhar o trabalho do Ibama e do ICMBio, agindo conjuntamente. O interessante é que já se sabe como fazer e tem como retomar e atualizar as medidas. É preciso retomar a criação de unidades de conservação e deixar de empoderar os criminosos. Hoje eles estão altamente empoderados com as ações do governo”, afirmou Marina Silva, lembrando que recentemente garimpeiros ilegais assassinaram indígenas isolados na comunidade Yanomami.

A entrevista com Marina Silva marcou a estreia do novo programa de Jamil Chade no Canal MyNews. O Cruzando Fronteiras trará sempre temas atuais, debatidos com convidados interessantes, e será transmitido diretamente da sede da ONU na Suíça.

* A cobertura da COP26 do Canal MyNews está sendo realizada em parceria com a Vale

 

Veja a íntegra da entrevista de Jamil Chade com Marina Silva, no Cruzando Fronteiras, no Canal MyNews

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