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Meio Ambiente

RESGATE DE MEMÓRIA

Projeto reúne ruínas da costa de Olinda numa arqueologia contemporânea

'Ruinofilia: Arqueologia Contemporânea na Costa de Olinda' foi idealizado como resgate histórico e arqueológico de ruínas encontradas na costa olindense.

por Redação em 06/04/22 15:12

Parte da coleção de pedaços de vidros e cerâmicas que formaram o projeto. Foto: Daniel Pereira

Que histórias e memórias as ruínas e os achados espalhados pela praia carregam? De onde vêm? Quanto tempo têm? Foi pensando em debater essa temática que três moradores da histórica cidade de Olinda (PE), patrimônio da humanidade pela Unesco, se juntaram e construíram o projeto Ruinofilia: Arqueologia Contemporânea na Costa de Olinda.

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O site reúne três ensaios, cada um com uma galeria fotográfica virtual. O que para muitos passa despercebido, dentro do projeto ganhou uma lente de aumento na ideia de resgatar parte da história e sobretudo de instigar o imaginário coletivo. O incentivo é da Lei Aldir Blanc Olinda.

Para a pesquisadora e historiadora da arte Beatriz Arcoverde, um dos três profissionais que assinam o Ruinofilia, as ruínas são também locais para uma nova exploração e produção de significados. Segundo ela, os pedaços resgatados são sobre restos e lembretes e por isso nos são tão fascinantes. “Elas nos fazem pensar no passado que poderia ter sido e no futuro que não teve lugar, nos atormentando com sonhos utópicos de escapar da irreversibilidade do tempo”, disse, relembrando a teórica cultural russo-americana Svetlana Boym.

Costa de Olinda em foto do Arquivo Público da cidade. Foto: Arquivo Público de Olinda

O antropólogo e fotógrafo Daniel Pereira, responsável pelas galerias publicadas no site, destacou, além das fotos das ruínas em si, imagens da Olinda de antigamente, hoje reunidas no Arquivo Público, no Centro Histórico da cidade. Resgatando os pensamentos do francês Roland Barthes, Daniel frisou que as imagens fotográficas, em sua permanente função de eternizar momentos, são também instrumentos de “ressuscitar mortos”. O conjunto das imagens do projeto remete a isso também, ao processo de deixar vir à tona o que já foi.

É do pesquisador Ted Greiner, ferrenho colecionador de vidros do mar, a inspiração para criação do site. Nascido nos Estados Unidos e hoje morador de Olinda, ele dedica parte do seu tempo a coletar esses objetos nas praias da cidade e possui uma coleção de mais de milhares de “pecinhas”, são mais de 300 quilos de vidros do mar.

Ruínas que podem ser encontradas na costa de Olinda atualmente. Foto; Daniel Pereira

O mar e o tempo destroem muita coisa, sejam lixos ou resquícios do que foi atirado à água por navios. Mas não destrói o vidro – nem o plástico, infelizmente. Ao longo do tempo, esses pedaços mudam de forma, textura e muitas vezes até de cor. Processos semelhantes ocorrem com artigos de cerâmica, porcelana, oleira, azulejos e outros materiais de construção, de estilos bastante diferentes, sugerindo que vieram de casas destruídas pela erosão em diferentes épocas históricas.

“Cada peça dessa tem uma história, uma narrativa por trás”, afirma Ted. Para ele, o vidro do mar mais fascinante é o vidro negro, encontrado em Olinda. Pelo menos parece negro na praia e pode até confundir-se com uma pedra. Mas, segurando-o contra o sol, vemos que, na realidade, é uma cor verde-azeitona escura normalmente. É que garrafas de cerveja e licor eram normalmente guardadas em vidros dessa cor nos anos 1700 e 1800. Mas algumas foram guardadas em garrafas especiais para uma utilização especial, um vidro muito espesso feito para garrafas que deveriam ser mantidas a bordo de um navio durante muito tempo, para que o balançar do barco não o partisse.

“Muito desse material que encontramos pode, de fato, ser o famoso ‘vidro pirata’”, acredita Ted. O vidro negro parece ser mais comum nas praias de Olinda do que na maioria das regiões do mundo que ele já percorreu, inspirando pensamentos de possibilidades imaginárias que vão desde os “Piratas das Caribe” até contrabandistas de escravos que operavam em Pernambuco nos anos de 1800. Ou os holandeses fortemente envolvidos no comércio enquanto faziam de Olinda a sua capital ocupada.

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