COP26 entra na semana final ainda sem acordo das nações sobre compromissos ambientais. Protestos acontecem em Glasglow, denunciando que Cúpula do Clima pode terminar sem resultados concretos
por Juliana Cavalcanti em 07/11/21 15:35
Ao final da primeira semana da Conferência do Clima da ONU, a COP26, que acontece em Glasglow, na Escócia até o próximo dia 12 de novembro, as lideranças políticas responsáveis por se comprometerem com metas concretas de redução das emissões de gases de efeito estufa e demais medidas para frear o aquecimento global e, por consequência, as mudanças climáticas, têm enfrentado uma série de protestos da sociedade civil e de grupos que militam pelas causas ambientais. A principal crítica é a de que estão sendo anunciadas metas sem comprometimento efetivo e estratégias para alcançá-las.
Na última sexta-feira (5) um protesto com cerca de 25 mil pessoas, segundo o jornal Washington Post, criticou o posicionamento das grandes nações – principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. Outras manifestações reunindo milhares de pessoas aconteceram também no sábado (6) e neste domingo (7). A ativista Greta Thunberg chegou a classificar a COP26 como “um fracasso”. Thunberg afirmou que não é possível “resolver uma crise com os mesmos métodos que nos colaram nela”.
Entre os protestos, a Coalizão Negra por Direitos – entidade que reúne cerca de 250 organizações e movimentos sociais, lançou um manifesto exigindo a regularização das terras quilombolas e o comprometimento com a meta de zero desmatamento, além do fim do racismo ambiental no Brasil. A organização luta contra o genocídio da população negra, na cidade e no campo, “defendendo a terra, os territórios e as territorialidades negras como espaços de vida ambiental e humana, lutando, portanto, também, contra o racismo ambiental”.
“O governo do Brasil tem violado leis e códigos ambientais e o resultado tem sido o aumento do desmatamento das florestas na Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e no Pantanal. No caso da Amazônia, a floresta, os povos indígenas e as comunidades quilombolas têm sofrido os impactos do desmatamento e das atividades criminosas da mineração legal e ilegal. As ações criminosas se somam às queimadas legais e ilegais em escalas expressivas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, impactando nos territórios dos povos e comunidades tradicionais. Assim como, historicamente, são as regiões onde mais ativistas de direitos humanos, indígenas, quilombolas e ambientalistas na luta em defesa das terras, das águas, das florestas e dos territórios são assassinados”, denuncia o documento da Coalizão Negra por Direitos.
Segundo o jornalista Jamil Chade – que realiza cobertura especial da COP26 para o Canal MyNews, o governo brasileiro tenta apresentar uma proposta para criar um compromisso dos países ricos de transferirem recursos financeiros para as economias emergentes, no intuito de garantir a transição energética e climática.
Chade explica que a proposta foi apresentada no sábado (6), num momento crítico das negociações, na reta final do encontro, quando se espera que as nações cheguem de fato a acordos para reduzir as emissões de gases poluentes e se comprometam com ações tangíveis para frear o aquecimento global. A questão financeira está no centro do debate. O ponto crucial é sobre quem pagará a conta.
“Não há neste momento uma garantia de que esse acordo seja anunciado porque vários pontos, inclusive sobre o mercado de carbono, continuam em aberto. A parte técnica da negociação já foi concluída, mas a partir de segunda-feira (8) caberá aos ministros encaminharem a negociação e aí as decisões não serão mais técnicas, mas essencialmente políticas”, explica Jamil Chade.
O jornalista acrescenta que os países ricos estão hesitantes em se comprometerem com a distribuição de dinheiro, sem que haja um compromisso de redução, por exemplo, de desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa. Na outra ponta, estão os países emergentes – argumentando que sem uma garantia de dinheiro, não será possível garantir um compromisso.
Na sexta (5), a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, na estreia do programa Cruzando Fronteiras – do Canal MyNews, considerou inexistente a credibilidade do governo brasileiro para assumir compromissos de conservação ambiental. “A credibilidade é inexistente. (…) O governo Bolsonaro se especializou em fazer anúncios vazios para ganhar tempo de fazer mais queimadas, mais desmatamentos e mais emissão [de gases]”, pontuou Marina Silva.
A semana promete ser de muito debate e pressão social para que políticos e grandes empresas se responsabilizem por ações ambientais concretas que terão impacto sobre a existência de vida na Terra em várias regiões do mundo ainda neste século XXI.
* A cobertura da COP26 do Canal MyNews é realizada em parceria com a Vale
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