Regulação da Abima determina que instituições financeiras divulguem suas remunerações, mas processo para mais transparência no mercado ainda é longo
por Juliana Causin em 10/08/21 20:02
Desde julho, uma regulação da Anbima, a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, exige que as instituições financeiras divulguem a seus clientes como se remuneram ao comercializar investimentos. O processo para mais transparência no mercado financeiro, no entanto, ainda precisa de avanços. Essa é a avaliação de Leandro Corrêa, sócio e diretor de Relacionamento da Warren.
“Ainda é cedo para dizer que essas instituições estão se adaptando. Elas estão se adequando, mas ainda não está claro para o consumidor”, avalia Corrêa, em entrevista ao MyNews Investe. Para ele, esse é um movimento global que deve avançar no mercado brasileiro.
“Os Estados Unidos, a Inglaterra e a Austrália são países que proíbem, por exemplo, profissionais de investimento que fazem recomendação de receberem comissão. Eles podem cobrar uma taxa pela recomendação e só isso, o que limita boa parte dos conflitos de interesse”, afirma.
Segundo a Anbima, as instituições financeiras devem apresentar em um documento a forma como se financiam – a partir da taxa de administração de fundos, por corretagem ou pela taxa de performance, por exemplo.
Apesar do avanço, as mudanças mais audaciosas na regulação acabaram adiadas pela entidade, como a exigência de que as distribuidoras divulgassem o percentual de ganho de cada produto. Por ora, a instrução é de que seja divulgado um documento que explique de maneira mais ampla a forma de remuneração da instituição ao vender investimentos.
“Cobrar taxa de corretagem eu acho que não faz mais sentido no mundo digital de hoje. É como cobrar um TED num banco”, avalia Leandro. Ele explica que um dos modelos possíveis, e estudados na Warren, é o de assinatura. “É uma coisa mais simples, um modelo muito mais escalável. É como hoje a gente paga o serviço de streaming, os serviços de música”, diz.
Ele explica que, ao invés de um percentual de ganho da empresa para cada investimento dos clientes, os investidores pagariam uma taxa única para acesso aos serviços. “O custo de fazer uma ordem hoje é marginal. A evolução do mercado é essa”, defende.
Uma das vantagens do modelo, segundo o sócio da Warren, seria justamente evitar o conflito de interesse na venda de produtos financeiros. “Tem produtos financeiros que muitas vezes não interessam para o cliente, mas são recomendados porque pagam a comissão mais alta”, explica Corrêa.
“A Warren talvez seja a única corretora no país que não recebe comissão. Todas as comissões de todos os produtos que porventura a gente venha a receber, a gente devolve para o cliente”, afirma. O modelo, no entanto, é exceção entre as corretoras. Em geral, a taxa é zero, mas o custo de cada investimento fica embutido no produto.
Isso aconteceu porque agentes e plataformas costumam receber um percentual de comissão ao negociar determinados investimentos. O processo é comum, por exemplo, com fundos de investimento, em que os gestores responsáveis pelo produto pagam uma comissão à corretora pela venda. “O mercado financeiro hoje ainda está muito calcado no modelo de comissão. Essa é uma evolução que a gente ainda vai ver daqui para frente e o investidor está cada vez mais vendo isso”, explica ele.
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