Duas vezes presidente do partido, Tasso lembrou do passado da legenda e suspirou quando lembrado de seus fundadores. E reconhece: “O PSDB vive um momento difícil”
Os que restaram no PSDB tentam vender como novo ciclo a fusão do partido com o Podemos. Na prática, o PSDB acabou. É o fim. A legenda foi criada na redemocratização do país, e completaria 35 anos em junho agora, no embalo de políticos como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Euclides Scalco e José Richa, os históricos tucanos.
Um desses membros do grupo fundador, Tasso Jereissati, falou com o Canal MyNews sobre o fim do partido. Nessa conversa, o ex-governador do Ceará (três vezes) e ex-presidente do PSDB (duas vezes) revelou a dor desse desfecho do partido, suspirou quando foram lembrados a ele os nomes acima citados e reconhece que o partido vive um momento difícil.
O PSDB irá se fundir ao Podemos, união que precisa ser autorizada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e nasce com o provisório nome de “PSDB+Podemos”.
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Tasso é um dos poucos remanescentes daquele grupo, ainda que distante de disputas eleitorais. Em 2022, a exemplo de outros criadores do PSDB – como FHC, Serra, Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal – apoiou Lula no segundo turno, contra Jair Bolsonaro. Exceção foi o ex-presidenciável Aécio Neves, que não apoiou nenhum dos dois finalistas da disputa.
Sempre sereno e cordato, Tasso conversou com o MyNews durante o aniversário de 95 anos de José Sarney, no qual estava presente. Perguntado se “dói” ver o PSDB nessa situação, nesse desfecho, disse que sim.
“O PSDB vive um momento difícil como partido. Como disse para você, um momento difícil que vivemos mais pelas nossas virtudes do que pelos nossos defeitos. Nós conseguimos ser oposição sem adesão ao governo Lula, de esquerda, e no governo Bolsonaro, de extrema-direita. E não tínhamos vocação simplesmente fisiológica e governista”, declarou Tasso.
Numa gravação de pouco mais de dois minutos, lembrado dos nomes históricos do passado tucano, foi abordado se sentia saudade do velho PSDB. E suspirou:
“Ahhh! Sim, claro”. E seguiu no raciocínio:
“Tivemos na defesa da democracia nosso fundamento principal. E no modelo social-democrático nosso ideal de país. Portanto, ficamos na oposição à extrema esquerda e à extrema-direita. Não vamos fugir disso”.
Ainda tratando do momento atual do partido, o também ex-senador falou dos rumos ao lado do Podemos, acreditando que possa sair daí um partido que o PSDB já foi um dia.
“Agora, precisamos fazer uma opção de fusão com o Podemos. E, para daí, renascermos, com novas pessoas, novas ideias. Um partido como o PSDB foi, porque o Brasil precisa, mais do que nunca do PSDB”.
Ao longo dos anos, após a derrota para de Aécio para Dilma Rousseff (PT), na disputa presidencial de 2014, o partido tomou outros rumos. A contestação desse resultado na Justiça Eleitoral foi entendida como uma guinada equivocada, uma temerária desconfiança às regras do jogo democrático. Pouco tempo depois, o PSDB perdeu parte de sua bancada eleita, que migrou para o lado bolsonarista, após o pleito de 2018.
Nesse momento de fusão, encabeçada por Aécio, o partido perde nomes importantes, como o do governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, que optou por deixar a legenda tucana e se filiar ao PSD, de Gilberto Kassab.