Maquiador no gabinete é perfumaria, tem coisa mais grave no Congresso Erika Hilton na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, no último domingo | Foto: Instagram

Maquiador no gabinete é perfumaria, tem coisa mais grave no Congresso

O caso dos maquiadores de Érika Hilton (PSol-SP) revela um problema maior: um Congresso caro, inflado e desconectado do país real; merece críticas por ter sido uma líder do PSol ausente do plenário

Entre a vaidade e a ausência, o caso dos maquiadores da deputada Érika Hilton (PSol-SP) revela um problema maior: um Congresso caro, inflado e desconectado do país real. Talvez este seja o grande mérito do caso: nos forçar a olhar para o espelho do parlamento. Porque, afinal, poucos são os que usam maquiagem no gabinete, mas muitos os que desperdiçam dinheiro público com convicção. E pior: acreditando, de fato, que estão no seu pleno direito.

Maquiador não é a coisa mais grave em Brasília

Não se trata apenas de vaidade. Trata-se da certeza confortável de que o aparato estatal é um prolongamento da vida pessoal do parlamentar. Quem autoriza a contratação de um maquiador com verba pública talvez não aja por cinismo, mas por um senso distorcido de normalidade. E isso é tão grave quanto.

Congresso caro e inchado

O episódio reforça o que já sabemos, ou fingimos esquecer. O parlamento brasileiro é uma máquina superdimensionada, cara e inchada. Um organismo que distribui penduricalhos com a mesma generosidade com que nega prioridades essenciais à população.

As famosas rachadinhas, as verbas de gabinete, os auxílios e reembolsos mil criaram um ambiente onde o absurdo parece legítimo, até que se torna público. Sem falar no escândalo dos escândalos, os desvios com o Orçamento secreto. Justiça ao PSol aqui, autor da ação no STF, e caso que está sendo tocado pelo ministro Flávio Dino.

Mas talvez o que mais impressione neste caso não seja o maquiador. É a ausência. Porque mais grave do que alguém contratar um maquiador para o gabinete é não aparecer para o trabalho. É não votar, não debater, não legislar. Esse o pecado de Erika Hilton. Os números ajudam a ilustrar: como líder da bancada do PSOL, em 2024, a parlamentar do PSol participou de 219 votações nominais em plenário e fez 26 discursos.

No mesmo posto, Sâmia Bomfim, da mesma geração, do mesmo partido, portanto do mesmo campo ideológico, participou de 492 votações nominais e fez 336 discursos em plenário, quando foi líder em 2022. A comparação não é um julgamento pessoal, mas um retrato claro do que é possível esperar de um mandato efetivamente exercido.

Uma líder ausente

Quem acompanha a Câmara sabe que Erika foi uma líder ausente. Não era vista, sequer, orientando o partido em plenário, em  qualquer votação. Claro, deve ter tido uma ou outra, mas era raro. Trocar sessão do Congresso por sessão de cabelereiro, sim, é digno de notícia. Além de lamentável. Entra no rol da “gazeta” famosa de deputado, que some do trabalho para viajar, malhar em academia e outras cabulagens.

É aí que o debate deve começar. Não como combustível para alimentar a polarização burra e barulhenta, mas como faísca para uma conversa séria entre cidadãos. O uso de verbas públicas precisa ser constantemente escrutinado. E, mais do que isso, precisamos discutir o que esperamos de um parlamentar: presença, compromisso, representação. O resto é maquiagem.

Erika Hilton, com Duda Salabert (PDT-MG), foram as primeiras deputadas transexuais eleitas para o Congresso Nacional. É uma grande vitória, uma conquista. Mas que impõe responsabilidades.

Segunda Chamada do MyNews, 24 de junho de 2025

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