Denunciar assédio sexual é mais complicado quando o agressor é um colega de trabalho. Foi o que afirmou a jornalista Kátia Belisário, pesquisadora em comunicação em gênero da Universidade de Brasília (UnB), durante participação no Segunda Chamada de sexta-feira (6).
A declaração veio em meio ao debate sobre a exoneração do ministro Silvio Almeida, até então responsável pela pasta de Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil. Dezenas de mulheres, entre elas Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, relataram ter sido abusadas por Almeida. As denúncias foram feitas coletivamente à ONG Me Too.
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“Eu gostaria de falar sobre a dificuldade que é para uma mulher denunciar. Existem canais, mas o silenciamento das mulheres é uma questão que precisa ser pensada. No caso específico da Anielle, é muito complicado”, disse Kátia, acrescentando que a situação de assédio é agravada quando o abusador é um colega de trabalho.
A pesquisadora relembra o caso do economista Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal. Em junho de 2022, ele deixou o cargo em meio a acusações de assédio sexual e moral feitas por funcionárias do banco. “Quantas mulheres tiveram que denunciar até que a denúncia fosse considerada?”, questionou. “Se uma mulher fala, é difícil a denúncia ser considerada. Precisa ter 20, 80, e mesmo assim, há o descrédito.”
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Silvio Almeida negou as acusações e pediu à Me Too que explicasse as denúncias de assédio feitas contra ele. Em nota, afirmou repudiar “com absoluta veemência” as “mentiras” que estão sendo disseminadas e disse haver uma “campanha” para afetar a imagem dele “enquanto homem negro em posição de destaque no Poder Público”. Ainda na nota, citou o “amor e respeito” que tem pela família e pediu que as acusações, guardadas sob sigilo, se tornem públicas para que sejam investigadas “com todo o rigor da lei”.
A pesquisadora Kátia Belisário ressaltou que não estava colocando em pauta a veracidade das denúncias e reitera que Almeida terá todas as formas de provar a inocência, embora acredite que será “difícil” desacreditar tantas mulheres. Para ela, o agora ex-ministro é uma “grande autoridade em racismo estrutural” e alguém com competência acadêmica indiscutível, o que torna o caso ainda mais “triste” e “lamentável”. Conhecido defensor dos direitos humanos e da causa racial, Almeida é advogado, filósofo e professor universitário.