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Opinião

DESMONTE DA CULTURA

Marcelo Rubens Paiva: ‘Classe artística foi massacrada por Temer e Bolsonaro’

Para o escritor, dramaturgo e jornalista, lidar com a ameaça iminente que colocava em risco o futuro de sua profissão foi a parte mais difícil de atravessar os dois governos

por Sofia Pilagallo em 15/11/24 17:19

Escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva concede entrevista ao MyNews, em fevereiro de 2022 | Foto: Reprodução YouTube/MyNews

A classe artística foi massacrada durante os governos de Michel Temer (MDB-SP) e de Jair Bolsonaro (PL-RJ). Foi o que afirmou o escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva, que conversou com o MyNews em fevereiro de 2022. Mais de dois anos depois da entrevista, as salas de cinema de todo Brasil estão lotadas para a exibição de Ainda estou aqui, filme baseado na autobiografia de mesmo nome escrita por ele.

À jornalista Myrian Clark, Rubens Paiva contou que, desde o fim do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG), recebeu diversos ataques nas redes sociais, mas que nunca deu muita importância para esse tipo de “cancelamento” digital. Para ele, lidar com a ameaça iminente que colocava em risco o futuro de sua profissão foi a parte mais difícil de atravessar esse período.

“A classe artística vem sendo massacrada desde o fim do governo Dilma e início do governo Temer, e agora com Bolsonaro”, disse o escritor, que trouxe à tona as “intervenções” da Agência Nacional do Cinema (Acine) e o repúdio dos bolsonaristas com relação às leis de incentivo à cultura, em especial a Lei Rouanet. “Esse tipo de lei é algo completamente normal em qualquer país, todos os países têm leis desse tipo. Inclusive, é até uma lei liberal, pois busca patrocinar a cultura por meio do empresariado.”

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Os governos Temer e Bolsonaro, especialmente a gestão do ex-presidente do PL, ficaram marcados pelo desmonte do setor cultural. A extinção do Ministério da Cultura, o desmonte da Ancine, além de acusações de censura e polêmicas envolvendo citações nazistas e alusões à ditadura militar, foram alguns dos episódios que mancharam a história da cultura brasileira entre os anos de 2018 e 2022.

Em janeiro de 2020, em um dos casos mais emblemáticos ocorridos no governo Bolsonaro, o então secretário de Cultura do Governo, Roberto Alvim, fez um discurso semelhante ao de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do líder nazista Adolf Hitler. Em meados do século 20, Goebbels afirmou que a “arte alemã da próxima década será heroica” e “imperativa”. Alvim, por sua vez, disse que a “arte brasileira da próxima década será heroica” e “imperativa”. Após a repercussão negativa do caso, Bolsonaro decidiu exonerá-lo do cargo.

Ainda estou aqui

Dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Ainda estou aqui é ambientado na época da ditadura militar no Brasil. O filme gira em torno de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres), mãe de Marcelo Rubens Paiva, que se vê obrigada a assumir sozinha a criação dos cinco filhos e se reinventar como ativista depois de um evento traumático.

Em 1971, o marido de Eunice, Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), foi levado para interrogatório pelos militares e, sob a custódia dos agentes, desapareceu sem deixar rastros. A morte dele fora confirmada só 40 anos depois, graças às investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O órgão foi criado no governo Dilma com o intuito de apurar as graves violações de direitos humanos ocorridas no Brasil entre 1946 e 1988, em especial no período da repressão.

A estreia de Ainda estou aqui ocorreu no Festival de Veneza, em 1º de setembro de 2024 e, na ocasião, foi aplaudido por dez minutos consecutivos pelo público. Depois, foi exibido em diversos outros vários festivais renomados, como Cannes e Veneza, onde foi igualmente bem recebido. Após ganhar destaque global, o longa foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA) para representar o Brasil no Oscar em 2025 na categoria “Melhor filme internacional”.

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