Para Robson de Carvalho, plataformas têm interferência no debate público, nos processos eleitorais e podem ser responsabilizadas pelo avanço da extrema direita no mundo
por Camilla Lucena* em 06/09/24 16:13
Robson de Carvalho durante participação no Segunda Chamada de quarta-feira (4) | Foto: Reprodução/MyNews
Não há neutralidade na atuação das redes sociais, e não seria diferente com o X (antigo Twitter). Foi o que afirmou o cientista político Robson de Carvalho durante participação no Segunda Chamada de quarta-feira (4), acrescentando que se trata de empresas de comunicação privadas que agem para alcançar os próprios interesses. Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o X no Brasil depois de o empresário Elon Musk, dono da plataforma, se recusar a indicar o representante legal da empresa no Brasil.
Carvalho explica que, por meio de algoritmos e técnicas de microdirecionamento dos usuários, todas as redes sociais têm interferência “no debate público, nos processos eleitorais e na perturbação dos regimes democráticos”. As empresas trabalham para direcionar conteúdos compatíveis com o perfil de cada um dos usuários, visando vantagens comerciais, empresariais e até mesmo político-partidárias.
Nesse sentido, também seriam responsáveis pela difusão da extrema-direita em diversos países, inclusive no Brasil. “Quem está aliado com os proprietários [e os interesses particulares] dessas empresas acaba saindo em larga vantagem [no sentido de alcançar novos públicos e difundir ideias e informações]”, disse.
O embate entre Musk e Moraes foi essencialmente político. O pedido de suspensão do X no Brasil é a última de uma série de decisões judiciais aplicadas pelo STF desde os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Moraes é o relator de inquéritos que investigam os ataques aos Três Poderes. À época presidente do TSE, também foi o responsável por restringir o acesso de um grupo de bolsonaristas à plataforma, por divulgação de notícias falsas no período eleitoral. Outras redes sociais também foram alvo das investigações, mas Musk foi o único a descumprir as exigências. Desde então, os atritos entre o ministro e o empresário vinham em uma crescente.
Mesmo após o bloqueio do X no país, diversos parlamentares de extrema direita continuaram usando a rede social por meio do VPN, conduta proibida por Moraes sob multa diária de R$ 50 mil. A lista de parlamentares que continuam ativos na plataforma inclui os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Carla Zambelli (PL-SP), José Medeiros (PL-MT) e Marcel van Hattem (Novo-RS), e os senadores Sergio Moro (União-PR) e Marcos do Val (Podemos-ES).
*Sob supervisão de Sofia Pilagallo
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