Mesmo após condenação do STF, deputado federal Daniel Silveira recebeu indicações na Câmara e disse desligar tornozeleira eletrônica.
por Paulo Totti em 02/05/22 09:32
Ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)
Desde a tarde em que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu condenar Daniel Silveira (PTB) por graves crimes contra o estado democrático de direito e o presidente Jair Bolsonaro retaliou com a concessão de um indulto que livra o deputado da cumprir a pena de oito anos e nove meses de prisão, o país está parado, estupefato.
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A perplexidade se tornou sobressalto na semana seguinte, quando o político em questão foi homenageado em uma sessão solene no salão nobre do Palácio do Planalto e, numa provocação, o partido de Roberto Jeferson o indicava para cinco comissões permanentes, entre elas a mais importante da Câmara, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O escárnio ficou explícito quando se soube que sua excelência desde a Páscoa desligara a tornozeleira eletrônica que fora ordenado a usar pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes. E o descalabro se materializava em afronta quando o inquilino do Alvorada fazia mais um ataque às urnas eletrônicas e sugeria que as Forças Armadas realizem apuração paralela dos votos na eleição presidencial, responsabilidade exclusiva e obrigatória do TSE, segundo a Constituição.
Para Bolsonaro, não é o Congresso, como disse na quinta-feira o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o guardião da democracia, mas sim as Forças Armadas.
O Executivo se posiciona ferrenhamente contra a Corte Suprema. O legislativo oficialmente se cala, mas a sua porção evangélica, a bancada da Bíblia, e sua porção policial, a bancada da Bala, se manifestam e, na falta de divergência explícita, posam elas próprias como porta-vozes da Câmara e até de todo o Congresso.
Enquanto isso ninguém se dedica ao debate sensato e necessário sobre a crise econômica (inflação e juros de volta aos dois dígitos), crise ambiental (o país que mais desmatou em 2021), crise educacional (cadê o plano federa para as escolas recuperarem os dois anos perdidos durante a pandemia?), crise laboral (a média salarial caiu 8% de março a março entre 2021 e 2022), as demarches sucessórias se sucediam, como se a realidade surrealista descrita acima não fosse diretamente ligada à eleição e também ao golpe que os mais atentos temem estar sendo tramado.
Eduardo Leite anunciou o reconhecimento (mais ou menos) da vitória de João Doria nas prévias do PSDB, Simone Tebet (MDB) reafirmou que nasceu para ser presidente e não vice. Roberto Freire (Cidadania), dono de mais fluência verbal do que de votos, disse que votará em quem o PSDB indicar, pois para isso há décadas é da linha auxiliar do PSDB, Ciro Gomes (PDT) diz que conversar ele conversa com o que restar da Terceira Via, mas não desiste da candidatura, e o União Brasil dá sinais de pretender carreira solo para a presidência, com a promoção de Luciano Bivar, que antes se contentava com a vice-presidência.
Há muitas razões para a dissidência do UB. Mas a principal, a decisiva, é esta: Além do maior tempo de TV e rádio, a parte que cabe ao União Brasil no latifúndio de R$ 4,9 bilhões do Fundão eleitoral é de R$ 747,3 milhões.
O MDB tem R$ 362,4 milhões; o PSDB, R$ 319,7 milhões e o Cidadania, R$ 85,4 milhões. O partido resultante da fusão PSL-DEM resolveu usar em casa sua fortuna em lugar de reparti-la com candidatos alheios e já derrotados. Espera-se para esta semana (2 a 7 de maio) o anúncio da retirada. (Há observadores que acreditam numa repentina adesão do UB ao bolsonarismo).
De sua parte, Lula se fortalece. Passou o fim de semana em Brasília para receber, na companhia de Geraldo Alckmin, a confirmação do apoio da Rede Sustentabilidade e do PSB (este ao som da Internacional Socialista). E a ONU, por seu comitê de Justiça, considerou que o ex-presidente foi vítima de um julgamento parcial que o levou à prisão e o impediu de voltar à presidência já em 2018.
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