Senador Jaques Wagner desistiu da intenção de concorrer ao governo baiano. Partido dos Trabalhadores no estado está sem opções no horizonte e cogita apoiar candidatura de Otto Alencar (PSD).
por Paulo Totti em 04/03/22 09:43
Senador Jaques Wagner (PT) desistiu de concorrer ao governo da Bahia. Foto: José Cruz (Agência Brasil)
A desistência do senador Jaques Wagner de concorrer ao governo da Bahia pode acelerar a aliança nacional do PT com o PSD e fortalecer as chances de Lula ganhar a eleição para presidente no primeiro turno. Mas cria desde já sérios problemas para o PT baiano que ainda não sabe quem e como escolher o substituto de Wagner.
O PT não tem um nome expressivo para a missão e a solução seria adotar a candidatura de Otto Alencar, senador do PSD, hoje em final de mandato, e aliado confiável desde 2010 quando se elegeu vice-governador na chapa do próprio Wagner. Em 2014 foi eleito senador, com apoio do PT, do PSD e mais seis partidos, ao derrotar Geddel Vieira Lima (PMDB) e Eliana Calmon (PSB).
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Ao adotá-lo como candidato na Bahia, Lula terá nova oportunidade de tentar convencer o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, dono do PSD, a antecipar em 28 dias (para 2 de outubro) o voto só prometido para o segundo turno, no dia 30. Com mais um candidato a governador, o PSD poderia conquistar mais votos para sua bancada na Câmara.
As razões da desistência de Wagner não foram totalmente esclarecidas. Aos íntimos, Wagner disse que está “sem tesão” para a campanha e também para ocupar por mais quatro anos o Palácio de Ondina, onde morou de 2011 a 2019. Por seu estilo pessoal nunca pareceu muito emocionado com o que lhe acontecesse na vida, para o bem ou para o mal. Os adversários chegam a acusá-lo de preguiçoso, mas a maioria dos baianos, admiradores do temperamento semelhante de Dorival Caymmi, nunca negou a Wagner a simpatia e o voto.
O contrário estava para acontecer agora na eleição para governador. O preferido pelos baianos é o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), tão implacável inimigo do PT quanto seu avô, Antônio Carlos Magalhães. A vitória de Neto parece tão real quanto a de Lula, como apontam as últimas pesquisas realizadas na Bahia: ACM, 45%, Wagner, 30%; Lula, 52%, Jair Bolsonaro (PL), 23%. O candidato de Bolsonaro a governador, João Roma, ministro da Cidadania, não vai além dos 10%.
O receio de perder foi a real razão para Wagner preferir a tranquila vida de senador por mais quatro anos. Na eleição passada para governador, quem fugiu foi Neto, que não se atreveu a enfrentar Ruy Costa (PT), candidato à reeleição. Se Otto concorrer a governador, estará aberto o caminho para Ruy Costa sair candidato a senador.
Nas duas últimas eleições para prefeito em Salvador, o PT percebeu que não teria chances respectivamente de derrotar Neto, candidato à reeleição, ou Bruno Reis, apoiado por Neto, e transferiu ao PCdoB a responsabilidade de perder nas duas oportunidades.
Agora, o problema estará criado se Otto também não quiser enfrentar Neto diretamente. Quando seu nome aparece nas pesquisas como candidato em lugar de Wagner, Neto sobe para 48% e o senador do PSD não chega aos 20%.
Este é o mês em que o PT terá de definir-se, pois desde a última semana de fevereiro está aberta, até 1º de abril, a permissão para deputados e senadores mudarem de partido e Ruy Costa terá que se desincompatibilizar, também até abril, se quiser ser candidato a algum posto, pois não pode mais se reeleger.
O senador Otto Alencar só apareceu nacionalmente com mais destaque durante a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Covid-19, mas na internet há registros de participação no senado que mostram seu alinhamento com o PT. Em 2016, ele votou contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2017, votou contra a reforma trabalhista, e no mesmo ano votou contra a manutenção do mandato do senador Aécio Neves (PSDB), acusado de receber propina do empresário Joesley Batista. Já em 2019, votou contra o Decreto das Armas de Bolsonaro que flexibilizava porte e posse de armas para o cidadão. Só não acompanhou o PT ao votar a favor do teto de gastos.
Há um mês ninguém na Bahia acreditava que o PT teria tantos problemas para consolidar sua aliança com o PSD como está tendo em São Paulo com o PSB.
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