Paulo Totti

ELEIÇÕES 2022

PT na Bahia: sem Jaques Wagner, consolida-se favoritismo de ACM Neto

Lula é que terá de conseguir votos para o Partido dos Trabalhadores (PT) em solo baiano, já que Jaques Wagner desistiu da corrida eleitoral. Expectativa é que favorito seja ACM Neto (União Brasil).

por Paulo Totti em 14/03/22 10:43

Antonio Carlos Magalhães, conhecido como ACM Neto, pode ser favorito ao governo baiano em 2022. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom (Agência Brasil)

Quarto colégio eleitoral do Brasil, a Bahia contribuiu durante 16 anos ao bom desempenho do PT nacionalmente. Mesmo em 2018, quando Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad no segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PT alcançou na Bahia 72,69%. Na mesma eleição, Rui Costa, também do PT, se reelegeu governador no primeiro turno com 75,5% dos votos contra Zé Ronaldo, do DEM (22,26%). No entanto, nenhum desses impressionantes números se repetirá este ano.

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Pequena será a contribuição dos petistas baianos na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente. As pesquisas indicam vitória de Lula na Bahia, mas a margem será bem mais modesta da que favoreceu Haddad há quatro anos. Lula é que terá de esforçar-se, e muito, para que seu prestígio penetre fundo na política do estado e ajude o PT a ter pelo menos uma votação razoável para governador, senador e deputados federais e estaduais.

Uma vitória geral, tipo barba, cabelo e bigode, será difícil. Essa era uma possibilidade até o dia em que, para surpresa geral, o senador Jaques Wagner anunciou a desistência de sua candidatura ao governo do estado. A partir daí, o PT da Bahia percebeu que não tem mais puxadores de votos. É um deserto de outros políticos com currículo para disputas importantes como a de governador. Sua situação é semelhante à do União Brasil (UB), fusão do DEM com o PSL, em relação à presidência da república – o PT (e seu aliado no estado, PSD) não tem candidatos à exceção de Wagner ou Otto Alencar; o DEM e o PSL não têm candidatos para concorrer com Lula ou Bolsonaro, à exceção de ACM Neto e Ronaldo Caiado.

Como nenhum dos quatro se atreve a concorrer à presidência (UB), ou ao governo (PT), sobra-lhes o recurso a correligionários inexpressivos, sabidamente condenados ao fracasso. São eles o pernambucano Luciano Bivar pelo União Brasil, oriundo do PSL onde era dono da legenda, e Jerônimo Rodrigues, secretário estadual da Educação, pelo PT. O UB, maior partido parlamentar e donatário de mais de um bilhão de reais do fundão eleitoral, tenta fugir à completa desmoralização se, com a improvável aliança com PSDB e MDB, aderir à candidatura de João Dória ou Simone Tebet. Já o PT, na Bahia, escolheu Jerônimo Rodrigues, engenheiro agrônomo natural de Jequié, com ficha isenta de algo desabonador, mas também de notoriedade e acervo eleitoral.

Lula ao lado do atual governador da Bahia Rui Costa (PT) e do senador Jaques Wagner (PT). Foto: Divulgação (Governo da Bahia)

Nessas condições Lula é que terá de conseguir votos para os correligionários subalternos, ao contrário do que vinha acumulando até aqui desde 2006, quando Jaques Wagner, à frente de uma muito bem articulada política de alianças, se elegeu governador pela primeira vez.

Entre os membros dessas alianças mantiveram-se fiéis ao PT políticos filiados ao Partido Progressista (PP), hoje com quatro deputados federais e e nove estaduais. O vice-governador João Leão pertence ao PP e o governador Rui Costa costuma dizer que descobriu no companheiro de chapa, desde a primeira eleição em 2014, não só um aliado fiel mas também um verdadeiro amigo. Ao decidir não concorrer ao senado e continuar governador até o final do mandato, Rui teria descumprido o compromisso de ceder ao vice o Palácio de Ondina por nove meses.

João Leão se considerou traído e seus íntimos dizem que, entre esta segunda (14) e a sexta-feira  (18), trocará o PT pelo apoio a ACM Neto ou ao ministro da Cidadania, João Roma, também do PP, nacionalmente integrado à campanha de Jair Bolsonaro. Jaques pediu perdão pelo esquecimento de consultar Leão na hora do PT decidir se Rui continuaria ou não no governo até janeiro de 2023. O senador chegou a chamá-lo carinhosamente de “Leãozinho”. Parece que não adiantou. Nos bastidores do PT, contudo, afirma-se que Rui decidiu não se desincompatibilizar para impedir que Leão, um bolsonarista em potencial, assumisse o governo durante o período eleitoral.

Outro problema que o PT enfrenta na Bahia é o senador Otto Alencar, igualmente aliado desde 2014. O partido de Otto, PSD, prometeu votar em Lula só no segundo turno, mas seu líder nacional, Gilberto Kassab, quer atrair para o primeiro turno Eduardo Leite, a um passo de tornar-se ex-PSDB. Mas Leite vacila, pois, entre outras razões, gostaria de ter um partido para levá-lo ao segundo turno. E, sem dúvida, apoiá-lo na rodada final da eleição.

Ao contrário do que ocorre com João Dória (PSDB), Sergio Moro (Podemos) e até com Ciro Gomes (PDT), concorrer para ser apenas o melhor colocado entre os aspirantes da derrotada terceira via não empolga o governador gaúcho – a não ser, é claro, o zumbido de uma sedutora mosca azul. Quando Wagner era o candidato a governador e Rui Costa a senador, o PT pensava em Otto Alencar para suplente de Rui.
Agora, o próprio Alencar ainda não sabe se será apoiado para a reeleição.

Lula, evidentemente, não contava com tais problemas. Estava prevista a ida a Salvador no domingo (13), para participar do festivo lançamento de Wagner para governador. A viagem foi adiada e ainda não se sabe quando o líder nacional será apresentado a Jerônimo Rodrigues. O certo por enquanto é que uma vitória de Jerônimo contra Neto é tão improvável quanto a de Volodymyr Zelensky contra Vladimir Putin.

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