A semana começou com duas boas razões para candidatos e eleitores refletirem acerca da pandemia resiliente e suas consequências sobre o Brasil, há séculos mergulhado na tragédia das desigualdades regionais, de renda, de raça, de gênero.
por Paulo Totti em 19/01/22 14:51
A semana começou com duas boas razões para candidatos e eleitores refletirem acerca da pandemia resiliente e suas consequências sobre o Brasil, há séculos mergulhado na tragédia das desigualdades regionais, de renda, de raça, de gênero.
1) A Oxfam, organização internacional ligada ao chamado “mercado”, isenta de suspeitas de esquerdismo, revelou que um novo bilionário surgiu no mundo a cada 26 horas desde março de 2020, quando a Covid-19 começava a espalhar-se pelo planeta. Os 10 homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas durante o período, enquanto a renda de 99% da humanidade diminuiu.
2)O Brasil desapareceu do mapa global de investimentos produtivos desde 2016, publicou o Valor Econômico, em texto de Daniel Rittner. Nos três anos anteriores, o Brasil disputava com China e Estados Unidos posições de liderança como mercado atraente para investimentos não especulativos num horizonte de 12 meses. Hoje, segundo relato da empresa de consultoria e auditoria PwC (antiga Pricewaterhouse Coopers), é o 10º citado por executivos das maiores empresas mundiais quando lhes perguntam sobre os países em que pretendem aplicar seu dinheiro.
As duas notícias provocaram algum interesse no dia mesmo em que foram publicadas, repercutiram razoavelmente no dia seguinte e já na quarta-feira desapareciam dos jornais e Tvs, enquanto do outro lado do mundo ecoava uma inesperada manifestação de empresários: “Obriguem-nos a pagar mais impostos”. Ilustres políticos brasileiros e seus seguidores ocuparam-se de outros assuntos, dentre os quais elevar novamente para R$ 5,7 bilhões o Fundão eleitoral, pois R$ 4,9 bi é certamente muito pouco.
Este momento em que a campanha presidencial entra em banho-maria, no aguardo de que R$ 400 de Auxílio Brasil possam recuperar a ilusão perdida por milhões de eleitores, e o maior partido em criação, o União Brasil, saldo da liquidação dos capengas Dem e FSL, consiga no deserto de filiados um candidato para chamar de seu, seria propício para gente decente começar a pensar no Brasil e responder prontamente ao que, em plena crise sanitária, desemprego e fome, brasileiros ouvidos pelo Datafolha em todo o país ofereceram como caminho das soluções para quem lhes foi perguntar sobre o que fazer diante da desigualdade. Conhecedores sofridos das agruras que o Brasil enfrenta, 86% dos pesquisados afirmaram que o progresso está condicionado à redução da desigualdade entre pobres e ricos; 62% disseram que o acesso à saúde é uma das três principais prioridades para uma vida melhor, ao lado do “estudo” e da “fé religiosa”; 84% sugeriram aumentar os impostos de pessoas mais ricas para financiar políticas sociais; 67% concordaram que o fato de ser mulher impacta negativamente na renda obtida; 78% consideraram que a Justiça é mais dura com os negros; 76% disseram que a cor da pele influencia na contratação por empresas no Brasil; 62% apoiaram a manutenção, após a pandemia, do auxílio emergencial para as pessoas que hoje o recebem.
Entre os milhares de candidatos a presidente (sim, também, entre os presidenciáveis), governadores, senadores, deputados federais e estaduais há uma maioria que não sabe o que dizer para o eleitorado, mais preocupados estão com os privilégios do cargo. Pois bem, aí está um bom programa.
É o que o povo quer e, se atendido, assegurará não só a eleição de hoje como todas as futuras.
Quanto à perda do lugar antes ocupado pela economia brasileira perante o mundo, há também soluções rápidas e para as quais o país só precisa de independência e caráter, A primeira é abandonar as políticas que provoquem desemprego. Sem emprego não há sequer arrecadação que sustente a máquina de cobrar impostos, e se terá, a cada cinco anos, de provocar mais desemprego com nova, inútil, reforma da previdência. O restante se alcançará com concretas e reais medidas voltadas para o desenvolvimento. Esta é uma palavra de que se ouvirá muito falar neste ano e nos que se seguirem.
Acabar com a desigualdade é impossível, fazem coro Paulo Guedes, Henrique Meirelles e Affonso Pastore. Temos de cuidar do teto, proclamam.
Parecia impossível controlar a superinflação. E a dívida externa? Esta era considerada eterna. Alguns bravos, bem intencionados (e também inteligentes) brasileiros conseguiram controlá-las.
Pois agora é hora de acabar com as desigualdades. Pelo menos começar a mitigá-las, acabar com o maldito teto, que tem de ser furado todos os dias para, por exemplo, aumentar o salário de policiais. Teto furado só era lindo em 1935, na canção de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, “Chão de Estrelas”: A porta do barraco era sem trinco/ Mas a lua, furando o nosso zinco,/ Salpicava de estrelas nosso chão.”
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