Ex-estagiária do ministro Lewandowski teria agido como informante de Allan dos Santos STF

Ex-estagiária do ministro Lewandowski teria agido como informante de Allan dos Santos


Uma estagiária do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski foi descoberta atuando como suposta informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que é investigado pela Corte em dois inquéritos (das Fake News e dos atos antidemocráticos). A ação foi revelada por meio de mensagens coletadas pela Polícia Federal (PF) e publicadas pelo jornal ‘Folha de S.Paulo’.

As trocas de informações obtidas pela PF se deram por intermédio da quebra de sigilo telefônico do blogueiro, e estão presentes no relatório da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado. O parecer reúne conversas entre Allan e Tatiana Garcia Bressan, datadas de outubro de 2018 a março de 2020 – a estudante estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019.

O primeiro contato foi instigado pela estagiária, que demonstrou interesse em trabalhar na equipe da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Na conversa inicial, ela diz a Allan que é estagiária do ministro, obtendo “Fique como nossa informante lá” como resposta. Tatiana replica: “Será uma honra. Estou lá kkk”. A informação, segundo a PF, “naturalmente desperta o interesse de Allan”.

Allan dos Santos é investigado pelo STF no inquérito das Fake News e dos atos antidemocráticos.
Allan dos Santos é investigado pelo STF no inquérito das Fake News e dos atos antidemocráticos. Foto: Reprodução (Agência Senado)

Na sequência, o blogueiro questiona o que ela percebia de mais “espantoso” dentro do gabinete. A menina argumenta, então, que os ministros da Suprema Corte “decidem o que querem e como querem”. Complementou afirmando que “algumas decisões são modificadas porque alguém importante liga para o ministro”.

Tatiana disse também que o general Eduardo Villas Bôas “têm trânsito com quase todos os ministros”. De acordo com a ex-estagiária de Lewandowski, o ministro atende “prontamente” às ligações do militar. “Vc sabe que o Villas Boas botou um general pra trabalhar junto com o [Dias] Toffoli na presidência, né?”, escreveu, “Toffoli nem fala mais em ditadura de 64. Fala em ‘movimento de 64’”.

Em outra conversa, a estudante afirma que Lewandowski seria o responsável por instituir a soltura do ex-presidente Lula – o petista saiu da cadeia em novembro de 2019, após decisão do STF de proibir prisão imediata depois de condenação em segunda instância.

“Tenho pra mim q quem soltará o Lula será o Lewandowski porque com a última decisão nos autos da reclamação q a defesa ajuizou em nome do próprio lula, pedindo q ele pudesse conceder entrevista p/ quem quisesse)….. como esse decisão foi a primeira envolvendo a execução da pena do lula, tornou o Lewa prevento para futuras decisões envolvendo a execução da pena dele”, disse Tatiana.

À ‘Folha de S.Paulo’, a ex-estagiária alegou que nunca operou como informante, uma vez que a ligação com Allan se deu porque ambos foram alunos do escritor Olavo de Carvalho. Segundo ela, o contato com o blogueiro aconteceu devido a uma tentativa de arrumar emprego.  

Em nota, o gabinete do ministro Ricardo Lewandowski afirmou que todas as decisões proferidas por ele possuem “fundamentação constitucional e a eventual modificação delas ocorre por meio de recursos cabíveis, apresentados nos autos e julgados individual ou coletivamente”.

Ainda de acordo com o comunicado, o magistrado “atende os telefonemas institucionais, principalmente vindos de autoridades da República. Na época mencionada, o general Villas Bôas era comandante do Exército Brasileiro”.

Por fim, o gabinete informou que a seleção de estagiários acontece sob supervisão direta da Secretaria de Recursos Humanos do Tribunal.

Prestação de contas sobre espionagem para blogueiro Allan dos Santos

Nesta quarta-feira (6), o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a PF interrogue Tatiana Garcia Bressan sob o pretexto do inquérito das fake news, que apura a disseminação de informações falsas com cunho político.

Mesmo considerando as informações transmitidas pela estudante como “irrelevantes”, com a decisão os ministros demonstram que a espionagem em um gabinete da Corte deve ser reconhecida como ato grave.


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