Quem representa as mulheres negras na corrida presidencial brasileira?

Quem representa as mulheres negras na corrida presidencial? O ex-presidente Lula? O ex-governador Alkmin? O presidente Bolsonaro? O general Braga Neto? Ciro Gomes? Simone Tebet?
Alguns deles podem até falar em nome delas. Desconfio que, no palanque, se quiserem ao menos atrair a atenção desse contingente de eleitoras, terão que trazer propostas específicas para esta parcela da população que, arrisco dizer, está historicamente entres os que mais sofrem.

Mas quem, que não faz parte desse grupo, sabe, de verdade, o que é ser uma negra neste País? Eu, que não sinto na pele, imagino. Por isso, me preocupo e me solidarizo. Só quem sabe mesmo são aquelas que têm seus filhos assassinados, são espancadas, violentadas ou preteridas os se candidatar a um emprego.

Seria leviano eu, uma mulher branca, dizer que sei o que é o sofrimento das mulheres negras. Numa reportagem do Jornal da USP, a professora Eunice Prudente destaca que essas mulheres sofrem uma tripla forma de discriminação por serem mulheres, negras e pobres.

As mulheres que se dizem negras ou pardas formam um contingente de 48 milhões de eleitoras de um total de 156 milhões. Quem as representa no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas ou nos executivos estaduais? E, mais uma vez, pergunto: quem as representa na corrida presidencial?
Os “movimentos” que as defendem estão embarcados na candidatura Lula.

Perguntei a um experiente cientista político se ter uma mulher negra como vice poderia ter algum impacto na campanha para a presidência nesta altura do campeonato? “Não sei, talvez com Ciro funcionasse. Não acredito que uma liderança feminina negra aceitasse figurar junto ao figurino ‘Chanel’ de Simone”, respondeu ele.

Ter representatividade no executivo , legislativo e judiciário é fundamental para a definição de políticas públicas. O Congresso avançou neste sentido, embora ainda esteja longe de espelhar o que é a sociedade brasileira. Mas já melhorou muito em relação ao que percebi numa foto da promulgação da Constituição de 1988, em que Benedita da Silva aparece rodeada só por homens, todos brancos.
Toda esta conversa me fez lembrar de Francia Marquéz, a recém eleita vice-presidente da Colômbia. Ativista, negra, que teve grande peso para a eleição de Gustavo Petro. Francia é uma ambientalista reconhecida, com prêmios diversos internacionais e uma atuação relevante na luta contra a mineração ilegal na Colômbia.

Nas primárias para a escolha do candidato da coalizão Pacto Histórico, ela ficou em segundo lugar, atrás de Gustavo Petro, mas, segundo a jornalista Sylvia Colombo, “sua votação foi muito expressiva, bem mais alta do que se esperava. A partir daí, ela se projetou como uma possível candidata a vice”. Sylvia Colombo é correspondente da Folha de São Paulo em Buenos Aires e fez uma análise das eleições na Colômbia para o MyNews (veja vídeo).

Então, conta Sylvia, o próprio partido fez a sugestão para que Petro convidasse Francia para ser sua vice. “O Petro tinha uma estratégia parecida com a do Lula. Ele queria chamar um nome de centro-direita para ser seu vice, mas foi convencido a chamar Francia” nos relata Sylvia. Isso contou muito para a vitória de Petro. Durante a campanha, Francia fez atos e comícios sem a presença do candidato à presidência que mobilizaram multidões. Basicamente, foram essas mesmas pessoas que participaram dos protestos realizados em 2019 e em 2021. Uma franja mais jovem da população, com bandeiras do feminismo e do ativismo social.