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MARCO CIVIL DA INTERNET
“O ambiente se tornou mais complexo, mais poderoso e, por isso mesmo, mais perigoso quando mal regulado”, diz especialista em uso das redes sociais
Há exatos 11 anos, o Brasil consolidava um marco histórico para os direitos digitais com a promulgação do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014). Considerada uma das legislações mais avançadas do mundo à época, ela garantiu princípios essenciais como a neutralidade da rede, a proteção à privacidade e a liberdade de expressão, consolidando a internet como um espaço de cidadania, inovação e desenvolvimento nas mídias sociais.
Mas a internet de 2025 não é mais a de 2014: hoje, estamos diante de um novo ecossistema digital, dominado por algoritmos de recomendação, inteligência artificial generativa, redes sociais com alcance massivo e o crescimento de práticas desinformativas organizadas. O ambiente se tornou mais complexo, mais poderoso e, por isso mesmo, mais perigoso quando mal regulado.
Nesse cenário, o Marco Civil precisa ser visto como um ponto de partida e não de chegada. Seu legado deve ser atualizado para responder aos desafios contemporâneos. E o debate sobre o Artigo 19, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é o símbolo dessa encruzilhada. O que está em discussão é a responsabilização das plataformas pela moderação de conteúdo nocivo e criminoso.
Enquanto alguns argumentam que rever esse artigo abriria espaço para censura, defendemos que a ausência de qualquer responsabilização tem alimentado um terreno fértil para crimes digitais, discursos de ódio e manipulação política em escala industrial. Não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de garantir que ela conviva com responsabilidade, transparência e direitos fundamentais.
É por isso que defendemos, com clareza, a regulamentação das mídias digitais no Brasil. Um país que regula medicamentos, alimentos e o sistema financeiro não pode continuar tratando redes sociais e grandes plataformas tecnológicas como zonas livres de lei. A ausência de regras claras é, na prática, um incentivo à desinformação e à impunidade.
A experiência global mostra que o autoritarismo digital nasce justamente da falta de regulação. A liberdade não é oposta à regulação pelo contrário: ela depende de um ambiente com garantias, direitos e deveres definidos. E o Brasil tem capacidade técnica, jurídica e democrática para liderar esse processo.
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Como costumo dizer:
“Os dados não opinam apenas revelam o que a sociedade sente. E quando o sentimento coletivo é manipulado por algoritmos sem critério, o risco não é só digital é democrático.”
Aos 11 anos do Marco Civil, a melhor homenagem que podemos fazer à sua história é preparar seu futuro. E esse futuro passa, inevitavelmente, por uma regulação que proteja as pessoas, promova a verdade e preserve a democracia.