Relações desgastadas com China e Índia, fornecedores de insumos médicos, já impactam na produção das vacinas
por Vitor Hugo Gonçalves em 21/01/21 12:47
O clima de euforia gerado com o início da imunização contra a Covid-19 no Brasil durou pouco. O alívio gerado pela aprovação junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) das vacinas a serem produzidas no país pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz deu lugar à apreensão e ao risco de falta desses imunizantes. E o motivo recai sobre a política externa do governo de Jair Bolsonaro.
No dia seguinte à homologação dos antivirais, os projetos de vacinação começaram a enfrentar sérios entraves. A razão principal, em termos materiais, diz respeito às poucas doses disponíveis no Brasil: 6 milhões para mais de 210 milhões de habitantes — todas da Coronavac, vacina produzida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
O governo contava com 2 milhões de vacinas vindas da Índia, bem como de materiais chineses para produção de imunizantes no Brasil, impactando tanto as doses do Instituto Butantan quanto da Fiocruz.
A Fiocruz afirmou que a falta de previsão para a chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) pode atrasar a fabricação das primeiras remessas da vacina Oxford/AstraZeneca, previstas para a segunda semana de fevereiro. O Butantan confirmou que desde domingo (17) não consegue produzir novas doses da Coronavac por falta de insumos, parados na China.
Esse cenário de desabastecimento tem como uma de suas origens as estratégias de política externa dos países asiáticos, termos burocráticos e, sobretudo, contrariedades diplomáticas resultantes da postura federal brasileira.
Críticos ávidos do sistema político chinês, os integrantes da família Bolsonaro, acrescidos por ações de assessores e do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, geraram verdadeiros incômodos a Pequim, que foram compreendidos como erros sistêmicos pela comunidade internacional.
Nesta semana, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou que “a China não tem dado celeridade aos documentos de exportação necessários para que o IFA saia e venha para o Brasil”, e completou: “Estamos fazendo movimentos fortes no nível diplomático para encontrar onde está essa resistência e resolver o problema”.
Quanto à Índia, o não apoio brasileiro à proposta indiana de quebra de patente temporária de produtos relacionados ao combate da mundial da Covid-19, apresentada no ano passado à Organização Mundial do Comércio (OMC), é apontado como motivo principal para o entrave – o Governo Federal aguarda o carregamento de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca fabricadas no país.
O chanceler Ernesto Araújo, por sua vez, atribuiu o atraso na liberação de 2 milhões de doses prontas da AstraZeneca e dos insumos da Sinovac, já adquiridos pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz na China e na Índia, a adversidades burocráticas e à elevada demanda internacional pelos materiais. Mas admitiu que não há prazo para que as vacinas cheguem ao Brasil, embora o governo tenha inclusive preparado um avião especialmente para buscar os imunizantes.
“Todo o processo está avançando e queremos acelerar justamente para que possamos manter o cronograma de vacinação. O comércio com a China cresceu expressivamente nos dois anos do nosso governo. Em 2020, cresceu 30% em comparação com 2019. Estamos juntos no Brics e tenho certeza que isso se refletirá também neste caso. Não é um assunto político, é um assunto de demanda por um produto”, declarou.
Segundo Araújo, o Brasil mantém uma “relação madura e construtiva” com ambas as nações asiáticas.
Diante desse quadro, outros atores têm atuado para tentar retomar o fornecimento externo de insumos para as vacinas.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que participou no último dia 20 de uma reunião virtual com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.
“O governo chinês vai trabalhar para acelerar a chegada desses insumos. O diálogo com o governo de São Paulo e o Instituto Butantan vai fazer com que a gente consiga avançar o mais rapidamente possível. A decisão do governo chinês é atender a população brasileira”, declarou o parlamentar.
Maia confirmou a inação federal, tendo em vista “uma falta de diálogo incrível. A questão ideológica tem prevalecido sobre a questão de salvar vidas”, criticou. Até o momento, o governo brasileiro não realizou esforços para contatar a embaixada chinesa, a fim de debater possíveis soluções para a questão.
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