Sucessão de Lira já contamina comportamento dos partidos POLÍTICA

Sucessão de Lira já contamina comportamento dos partidos


Sucessões presidenciais no Brasil costumam ter início na posse mesmo do presidente eleito que, por sua vez, começa a governar com olho na reeleição. No curso do mandato seu desgaste produz os concorrentes.

Esse enredo começa na segunda metade dos anos 90, com a emenda de reeleição de Fernando Henrique Cardoso, que contribuiu para o desgaste acelerado do sistema presidencialista, com sérios danos à estabilidade política e econômica do país.

A resistência em revogar o princípio introduzido por uma emenda à Constituição, condenou o país à condição de voyeur da agonia do presidencialismo, que fez o striptease com o nome de coalizão e deitou com o semipresidencialismo.

É nesse contexto que outra sucessão, a da Câmara, é precipitada pelo desgaste precoce do segundo mandato de Arthur Lira, com enredo semelhante aos de presidentes da República empenhados na permanência no poder.

A diferença, para o bem, é que se trata de uma eleição do próprio parlamento, cujas crises decorrentes se encerram em seu próprio âmbito, ao contrário dos impeachments presidenciais que traumatizam o país pelos seus efeitos políticos e, principalmente, econômicos.

Mas nesse momento, no contexto de um semipresidencialismo informal, o desgaste de Lira e o consequente surgimento de candidatos à sua cadeira, apenas 4 meses após sua reeleição, criam problemas para o governo Lula, embora enfraqueçam seu principal oponente no Congresso.

Os problemas derivam do agravamento das dificuldades de formação de uma base minimamente confiável em meio a um processo sucessório em curso nos bastidores e que já contamina o movimento de partidos e candidatos potenciais.

Se trabalhar bem, Lula poderá tirar vantagem explorando o desgaste do presidente da Câmara e tentando alianças com prováveis candidatos, como Marco Pereira, do Republicanos, hoje vice de Lira.

O presidente da Câmara é vítima de sua própria natureza – rancorosa, avessa a revezes, mesmo pontuais, premido por investigações que chegam bem próximo de assessores especiais de longa data e mesmo de familiares.

Além disso, seu principal rival em Alagoas, o senador Renan Calheiros, tem um filho no governo, o governador do Estado, Paulo Dantas, seu aliado, e conquista significativa dianteira nas eleições municipais, nas quais deverá ter apoio explícito de Lula.

Rompido com o Senado, acuado por investigações, em desvantagem em seu Estado, Lira vê o presidente Lula cozinhar suas pretensões em banho-maria, em modo resistência que acompanha o desgaste do presidente da Câmara. Enquanto isso, vale-se do Senado para compensar a instabilidade decorrente do embate na Câmara.

Lira não controla mais a sua própria sucessão e passa recibo do seu desgaste político com idas e vindas em relação ao governo. Depois de acusar Lula de promover as investigações em seu Estado recuou e voltou a conversar com o presidente.

O cargo continua fonte de poder indiscutível, o que explica a discrição dos aspirantes ao cargo. Mas a liderança do presidente da Câmara desidrata com a corrida sucessória parlamentar. Alguém já disse que Lira não é uma liderança espontânea e que comanda a Casa com um porrete na mão.

Talvez isso explique a perda gradual dos 464 votos que lhe propiciaram uma reeleição com placar recorde. Hoje estima-se que tenha pouco mais que a metade. Menos, se testar esse capital político com votações de projetos que não tenham interesse corporativo.

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