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POLÍTICA

Sucessão de Lira já contamina comportamento dos partidos

Precipitação do processo de sucessão na Câmara afeta comportamento de partidos e aspirantes ao cargo

Em 19/06/23 10:05
por Política com Bosco

João Bosco Rabello traz uma bagagem acumulada em mais de 45 anos de profissão, em grandes veículos nacionais como O Globo e O Estado de S.Paulo. Sua coluna, agora no MyNews, traz insights valiosos e análises aprofundadas do cenário político direto de Brasília para os leitores.

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Sucessões presidenciais no Brasil costumam ter início na posse mesmo do presidente eleito que, por sua vez, começa a governar com olho na reeleição. No curso do mandato seu desgaste produz os concorrentes.

Esse enredo começa na segunda metade dos anos 90, com a emenda de reeleição de Fernando Henrique Cardoso, que contribuiu para o desgaste acelerado do sistema presidencialista, com sérios danos à estabilidade política e econômica do país.

A resistência em revogar o princípio introduzido por uma emenda à Constituição, condenou o país à condição de voyeur da agonia do presidencialismo, que fez o striptease com o nome de coalizão e deitou com o semipresidencialismo.

É nesse contexto que outra sucessão, a da Câmara, é precipitada pelo desgaste precoce do segundo mandato de Arthur Lira, com enredo semelhante aos de presidentes da República empenhados na permanência no poder.

A diferença, para o bem, é que se trata de uma eleição do próprio parlamento, cujas crises decorrentes se encerram em seu próprio âmbito, ao contrário dos impeachments presidenciais que traumatizam o país pelos seus efeitos políticos e, principalmente, econômicos.

Mas nesse momento, no contexto de um semipresidencialismo informal, o desgaste de Lira e o consequente surgimento de candidatos à sua cadeira, apenas 4 meses após sua reeleição, criam problemas para o governo Lula, embora enfraqueçam seu principal oponente no Congresso.

Os problemas derivam do agravamento das dificuldades de formação de uma base minimamente confiável em meio a um processo sucessório em curso nos bastidores e que já contamina o movimento de partidos e candidatos potenciais.

Se trabalhar bem, Lula poderá tirar vantagem explorando o desgaste do presidente da Câmara e tentando alianças com prováveis candidatos, como Marco Pereira, do Republicanos, hoje vice de Lira.

O presidente da Câmara é vítima de sua própria natureza – rancorosa, avessa a revezes, mesmo pontuais, premido por investigações que chegam bem próximo de assessores especiais de longa data e mesmo de familiares.

Além disso, seu principal rival em Alagoas, o senador Renan Calheiros, tem um filho no governo, o governador do Estado, Paulo Dantas, seu aliado, e conquista significativa dianteira nas eleições municipais, nas quais deverá ter apoio explícito de Lula.

Rompido com o Senado, acuado por investigações, em desvantagem em seu Estado, Lira vê o presidente Lula cozinhar suas pretensões em banho-maria, em modo resistência que acompanha o desgaste do presidente da Câmara. Enquanto isso, vale-se do Senado para compensar a instabilidade decorrente do embate na Câmara.

Lira não controla mais a sua própria sucessão e passa recibo do seu desgaste político com idas e vindas em relação ao governo. Depois de acusar Lula de promover as investigações em seu Estado recuou e voltou a conversar com o presidente.

O cargo continua fonte de poder indiscutível, o que explica a discrição dos aspirantes ao cargo. Mas a liderança do presidente da Câmara desidrata com a corrida sucessória parlamentar. Alguém já disse que Lira não é uma liderança espontânea e que comanda a Casa com um porrete na mão.

Talvez isso explique a perda gradual dos 464 votos que lhe propiciaram uma reeleição com placar recorde. Hoje estima-se que tenha pouco mais que a metade. Menos, se testar esse capital político com votações de projetos que não tenham interesse corporativo.

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