Anielle Franco mantém viva a resistência política da irmã e segue na busca por verdade e justiça
por Vitor Hugo Gonçalves em 12/03/21 15:04
Três anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, os órgãos responsáveis pela investigação do crime ainda não apresentaram um veredito sobre os possíveis mandantes do atentado e suas reais motivações.
No início de março (4), o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Oliveira Mattos de Souza, anunciou a criação de uma força-tarefa no Ministério Público do Rio (MP-RJ) com o objetivo de concluir a apuração e exame das provas. A promotora Simone Sibilio, coordenadora do caso no Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), chefiará a operação, tendo Letícia Emile, promotora que também participou da investigação, como integrante da equipe.
Em entrevista ao Café do MyNews desta sexta-feira (12), a irmã da vereadora e atual diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, relatou como vem conciliando trabalho, ativismo e justiça nesses últimos anos, demonstrando a necessidade explícita de mudanças sociais e políticas no Brasil.
“É difícil definir em poucas palavras o que foram esses três anos na nossa vida. A Mari faz muita falta, e faz muita falta em várias áreas, em vários setores da família – ela era mãe, líder, madrinha da minha filha… São três anos de muita luta e de muita saudade”, afirmou Anielle.
A atual diretora do Instituto Marielle Franco destaca que encara de maneira positiva a não federalização das investigações e que foi elaborado um dossiê com uma linha do tempo e perguntas sobre o duplo assassinato. O documento será entregue ao MP carioca.
“Esse é o retrato da sociedade em que vivemos: extremamente racista, machista, misógina… Que acha que pode descartar corpos como o da Marielle a qualquer momento. É muito cansativo, frustrante, ter que estar sempre defendendo a memória da Mari por conta de fake news. Até hoje recebemos muitas notícias falsas pelas redes sociais, quando não vem a entrada do racismo nos chamando de macacas e outras coisas. Fake News é o mal do século, elegemos um genocida assim, e a Mari ainda é muito vítima disso – não só ela como a família toda”, complementou Anielle.
De acordo com o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a implementação de uma força-tarefa pode ser um importante passo para a resolução do caso.
Participando do Café do MyNews ao lado de Anielle, Freixo disse que “qualquer assassinato” que fique três anos sem ser resolvido deve ser considerado “um absurdo’. Entretanto, a ocorrência em questão apresenta um diferencial: “O crime contra a vida de Marielle foi um crime contra a democracia. A morte da Marielle é o atestado de óbito da cidade do Rio de Janeiro, porque ela foi morta por razões políticas. Não foi bala perdida, não foi assalto, não foi crime passional, e isso precisa ser dito. Não interessa quem gostava ou não da Marielle, do que ela dizia ou do que ela representava politicamente, não é isso que está em jogo.”
“Existe um grupo político no Rio capaz de matar e isso atinge a todos, quem gostava ou não gostava, quem conhecia ou não conhecia. Três anos é um tempo demasiado e inaceitável, foram muitos erros, muitas coisas complicadas no início da investigação, mas que bom que se fez uma força-tarefa, que bom que o delegado hoje é uma pessoa muito aplicada, que procura sempre dialogar com a gente. Enfim, a gente tem confiança e esperança de que o caso possa ser resolvido mesmo com esse tempo absurdo”, disse o congressista.
Para o deputado, a questão sobre a mesa envolve, para além de posicionamentos públicos, o crime organizado. O político afirma existir “uma linha muito forte na delegacia de homicídios, uma linha que leva à gente muito poderosa aqui no Rio de Janeiro, a poderes políticos estabelecidos. Não temos a menor dúvida do envolvimento de milícias na morte da Marielle, do envolvimento de razões políticas e de gente poderosa, só que temos que chegar em quem mandou matar o mais rápido possível. É muito grave achar que a política pode conviver com a violência letal”.
Freixo ressalta que não entender a motivação política que levou ao assassinato de Marielle, e também quem é o mandante do crime, significa que crimes políticos podem continuar acontecendo.
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