As dúvidas alimentadas pela fake news do tratamento precoce
por Beatriz Prates em 12/05/21 17:41
Quando você é arrimo de família toda decisão que você toma influencia diretamente a vida dos seus familiares. É um peso danado.
Esses dias uma amiga que é responsável, como ela mesma diz, por decisões de “vida ou morte” na família dela mandou um kit covid – que não tem eficácia – para a irmã. Ela estava preocupada porque a irmã é do grupo de risco e a mãe dela – que já estava vacinada – teve Covid leve. Minha amiga não é bolsonarista. É empresária, jornalista e super bem informada. A justificativa pro kit que ela sabe que não funciona era “não aguentar a culpa se algo acontecesse de ruim e ela não tivesse dado nenhum remédio”.
Eu fico pensando: se isso aconteceu com ela, quantas pessoas estão se esbaldando em ivermectina, azitromicina e cloroquina? Um levantamento da GloboNews dá uma ideia. Do ano passado pra esse aumentou em 857% a compra de ivermectina e 126% hidroxicloroquina. O fato do Conselho Federal de Medicina não ter se posicionado contra a cloroquina é horrorizante. Não custa lembrar que já morreu gente em nebulizações de hidroxicloroquina no Rio Grande do Sul e no Amazonas.
Agora acompanhando os depoimentos na CPI da Covid, a gente consegue ver como o governo agiu para colocar o medicamento na boca do povo. Além da propaganda do presidente que todos nós acompanhamos, o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta contou do dia em que havia um decreto presidencial pronto para mudar a bula do remédio e dizer que ele era indicado para Covid. O diretor da Anvisa não deixou e um ministro disse que era só uma sugestão. O outro ex-ministro da saúde Nelson Teich reafirmou que saiu porque não topou bancar a recomendação do tratamento da Covid com o remédio. Só mesmo o general Eduardo Pazuello – também ex-ministro da saúde – foi capaz de tamanha crueldade com o povo brasileiro.
Mas e aí? E se você estiver com Covid e o médico disser pra você tomar um desses comprimidos? Se for sua mãe, seu pai, seu filho? É aí que vem o tal do fumacê. Nessa guerra ideológica que vivemos desde o dia 24 de março – quando o Bolsonaro disse que o coronavírus era uma gripezinha – as mentiras deixaram muitos de nós na dúvida. De tanto que são repetidas e propagadas as informações falsas geram receio, medo e até culpa.
A mentira da cloroquina e do tratamento precoce prosperou impulsionada pela máquina do governo. Mas ela também criou vida própria. Planta dúvidas em cada um de nós porque no fundo tudo o que a gente queria é que fosse verdade. Que houvesse algo que desse um jeito, que nos protegesse desse vírus que a gente não vê e que paralisou a nossa vida.
Nesta grande confusão não nos resta muitas opções. Nem o Brasil e nem nenhum país do mundo tem remédio pra Covid. A única esperança é a vacina e a ciência. Sigamos nos cuidando e tentando enxergar para além desse fumacê.
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