Aqui tenho de esperançar que não haja outro erro, como ir a Paris num possível segundo turno.
por Edilson Luiz em 29/09/22 12:36
Antes que o leitor mais criterioso venha cobrar-me verossimilhança matemática desse texto, vou logo avisando que a título veio antes, foi a inspiração para escrever, e continuará aí apesar de tudo. Não sou dado à cabala, tampouco me deixo levar pela numerologia, mas considero a frase impactante e vai ficar no frontispício, mesmo que os erros que vou apontar adiante sejam cinco, três ou apenas dois. Pensando bem, são mais que dois. Explicado minhas intenções estéticas e propagandistas, sigo adiante com a mensagem que desejo transmitir.
O primeiro erro é óbvio, e talvez aquele que fez a candidatura jamais dar sinal de subir de patamar. Trocar o apoio de Marina Silva pelos péssimos serviços de João Santana foi crucial. Marina tem o magnetismo de atrair o centro ponderado, a esquerda menos submissa ao PT e principalmente ganhar a simpatia de uma juventude mais atenta ao meio ambiente. Sem Marina a interlocução com outros atores tornou-se mais difícil, afinal se uma amiga e aliada não o acompanhou, por que outros com interesses políticos diferentes se deixariam seduzir pelo pedetista.
Falando em amizades, faltou uma conversa mais direta com os tucanos. Tasso Jereissati poderia ser a porta aberta para as discussões dentro do partido, estabelecer a chamada agenda mínima, abrir mão de alguns pontos, deixando de ser intransigente, pois as alianças, principalmente com a centro-direita seriam vitais nessas eleições. Desde 2021 considerava a chapa Ciro-Eduardo Leite a mais adequada para evitar polarização, e diminuir a possibilidade do centrão se agigantar.
Será que houve pisada de bola maior do que o “debate” com Gregório Duvivier? O Ciro em nenhum momento mostra ser um político bem humorado, que saiba fazer graça. No react ele deveria mostrar-se contrariado, explicar qual a verdade por trás das piadas sem querer impor sua vontade ao humorista. Uma live dos dois poderia ser útil, desde que permitisse ao Greg despejar suas teorias. Ouvir críticas é um dom extremamente necessário para um político. Numa única semana, mais que ser ridicularizado num programa de humor, acabou perdendo o prestígio diante de outros políticos.
Tudo bem o cenário foi dado. Talvez pelas forças de Mercado não desejarem que seu projeto fosse posto em prática, Ciro acabou isolado, lutando entre dois gigantes, sendo necessário estabelecer uma estratégia que funcionasse para tirar votos dos dois. Falta-me informação de acusar João Santana por essa campanha ou se o próprio candidato indicou o caminho. Independente disso a estratégia foi errada. Qualquer cientista político, e até eu que só acompanho política com algum interesse, diria a Ciro que o PT só por si conseguiria algo em torno dos 30% para qualquer candidato da sua legenda, o que o colocaria próximo ou já no segundo turno. Numa conta só minha, creio que a fatia do Lula plausível para ser conquistada seriam de uns 15% baseado nos números da pesquisa BTG/FSB de 26 de setembro. Por outro lado, duvido que no Brasil existam mais de 20% de radicais a ponto de comprar a cartilha completa do bolsonarismo. Também de acordo com a pesquisa BTG/FSB, outros 15% do eleitorado estavam abertos a ser conquistados. Foi justamente aí que Ciro errou.
É idiota comparar Lula e Bolsonaro quando a democracia está em risco. Tenho certeza que o Ciro sabe disso. Falar dos erros do Lula, lembrar que a corrupção do PT criou um sentimento de revolta que levou Bolsonaro ao poder, é legítimo e deveria ser bem explorado, mas compará-los não. Marqueteiros, políticos, podem dar conselho diferente, porém a cada pergunta a respeito de quem apoiaria num segundo turno com a sua ausência, deveria assumir claramente: voto contra Bolsonaro e pela democracia. Essa clareza de ideias, orientaria quem é contra o autoritarismo que ele também é uma alternativa.
Para mudar a fama de ser político de temperamento forte comportou-se muito bem nos debates, evitando ataques e tentando de vez em quando expor seu programa. Os especialistas lhe deram destaque, mas seu bom mocismo não lhe deu um voto. Debate onde Bolsonaro está, ele é o alvo a ser atacado. Afinal nenhum outro candidato ameaça a nossa querida democracia. Quando o presidente ataca Vera Magalhães no debate da Band, ele tem a oportunidade de defender a jornalista e as mulheres, atacar o adversário que era contra a vacina e exaltar seu currículo de ter sido destaque no combate à mortalidade infantil. Mas Ciro, poupou Bolsonaro e o momento se perdeu.
Dizem que o trem da oportunidade só passa uma vez, mas para Ciro ele surgiu novamente no debate transmitido em TV aberta pelo SBT. A jornalista Clarissa Oliveira levantou a questão da violência política, o presidente fugiu pela tangente, comparando os assassinatos praticados por seus apoiadores com um crime de feminicidio praticado por um petista. A réplica de Ciro foi ridícula. Preparado para comparar seus dois adversários, pouco falou da violência quando todos nós ouvimos Bolsonaro incentivá-la em vários momentos, e o Ciro esqueceu de tudo isso para se manter em sua estratégia equivocada.
Nunca cursei um dia de marketing, mas ainda assim me atrevo a dizer que foi um erro utilizar a palavra rebeldia na campanha do Ciro. Talvez motivado por estar cercado por jovens da turma boa, quis assumir o papel de rebelde. Terá sido sugestão do João Santana? Talvez saibamos disso no futuro. Mas chamar um cara de mais de sessenta anos de rebelde lhe tira bastante da credibilidade e não engaja ninguém à causa. Um dia vai haver sinceridade na política, e o candidato fará seu discurso sem tentar agradar público, apenas preocupado em defender suas causas. Votava no Ciro por compartilhar com ele um sentimento principal: indignação. Creio que as pessoas comprariam com mais facilidade um candidato indignado com tudo de errado que vivemos nos últimos anos do que um rebelde. Pode ser apenas uma questão de semântica, mas tem peso na campanha política.
O erro que fez ele perder meu voto aconteceu no programa de quinta-feira 22 de setembro. Eu como muitos considero Lula e Bolsonaro corruptos, mas colocar os dois no mesmo banco com as mesmas intenções tem a cara da estupidez de João Santana. Claro que aprovado por Ciro. Um autoritário não merece ombrear de maneira nenhuma com um democrata. Sei que meu voto vale pouco, minha posição é irrelevante, mas jamais vou estar ao lado de alguém que cogita votar num sujeito que favoreceu a morte de quase setecentas mil pessoas. Claro que à minha volta encontro pessoas que ainda se deixam enganar pelo presidente sem empatia e malvado, mas evito tratar de política com eles para não chegar às vias de fato. Minha paciência está acabando depois de quase quatro anos suportando esse sistema nojento de se utilizar do poder.
Bem, nem sei quantos erros enumerei do meu ex-candidato Ciro Gomes. O título vai continuar o mesmo. Mas aqui tenho de esperançar que não haja outro erro, como ir a Paris num possível segundo turno. Precisa passar uma semana remoendo o fracasso, assumindo os erros, e depois se colocar pela democracia, mesmo com dor no coração. Não precisa subir em palanque, mas tem a obrigação de levar a turma boa para o campo democrático, caso contrário perde a credibilidade do eleitorado, pois Jair Bolsonaro representa tudo de ruim na política nacional. A simples omissão colocará o Ciro no mesmo balaio. E acho que essa companhia é nociva para qualquer um.
*Edilson Luiz é autor do Romance Pedro Feroz pela Kazuá
*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews
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