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GUERRA NA UCRÂNIA

Principais narrativas e distorções que estão fazendo militantes de internet reproduzirem a narrativa estatal russa

Há versões mal contadas sobre os fatos que estão acontecendo na Ucrânia durante a invasão russa ao país. Neste artigo, o pós-graduado em relações internacionais Walmir Estima discute sobre elas.

por Walmir Estima* em 24/03/22 16:29

Bandeira da Rússia no céu. Foto: Egor Filin (Unsplash)

“A Ucrânia é o país n30naz1sta?”

Existem células supremacistas na Ucrânia, mas isso não pode ser usado para definir a política, o regime político e muito menos o povo do país. Desde a guerra civil que começou em 2014, com a deposição do presidente pró-Rússia, chamada de novas eleições e anexação da Criméia pela Rússia (território ucraniano desde 1950), supremacistas ucranianos e anti-Rússia ganharam mais poder no país.

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A guerra civil é instigada por Vladmir Putin, presidente da Rússia, através de estratégias de polarização e a radicalização ocorre em ambos os lados. Os separatistas russos também formaram exércitos igualmente xenófobos e radicais – e armados pela própria Rússia, o segundo maior produtor de armas do mundo. O próprio Putin é um político supremacista de extrema direita. Os EUA alimentam guerras civis para intervir no Oriente, já a Rússia alimenta o caos na Ucrânia para ter razões de intervenção.

A guerra é o principal alimento das células supremacistas ucranianas e russas. São sua razão de ser. O supremacismo não define o governo ucraniano, mas o russo sim! O atual presidente da Ucrânia é um judeu eleito com 73% dos votos em 2019.

“O presidente da Ucrânia é autoritário, pois dissolveu o congresso no primeiro dia de governo?”

Quem compartilha esta falsa narrativa geralmente esquece de dizer o que significa “dissolver o congresso”. Falam como se isto significasse centralizar poderes no executivo.

Dissolver o parlamento em países com o regime político da Ucrânia significa simplesmente convocar novas eleições parlamentares. Zelensky foi eleito na onda internacional de políticos populistas “anti-sistema”. Uma de suas promessas de campanha era convocar eleições parlamentares (para dissolver o parlamento) assim que pudesse – é uma previsão constitucional – e assim o fez.

“A Rússia não teve opção para proteger o seu território, diante da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Ucrânia?”

A Rússia é a maior potência nuclear do mundo com 6 mil ogivas nucleares ativas. Poderia estar rodeado de países da Otan e nenhum deles seria irresponsável o suficiente para começar uma guerra com a Rússia a partir de qualquer fronteira – assim como não estão dando apoio militar à Ucrânia no momento.

Propaganda digital russa e suas influências. Foto: Reprodução (Walmir Estima)

O território russo está muito bem assegurado pelo seu poderio militar, independente de quem estivesse na fronteira. Putin não é uma “vítima das circunstâncias”. É sim um presidente expansionista. O que estaria em risco não seria o território russo e sim o regime ditatorial de Putin.

Ele é um ditador muito bem estabelecido, mas com a proximidade cultural entre Rússia e Ucrânia, esta se transformando numa “democracia europeia”, a legitimidade de Putin poderia começar a ser questionada na Rússia. E como neofascista que ele é, depende da guerra e do expansionismo para se mostrar como “líder forte”.Anexar a Ucrânia também é um plano antigo, porém se esta entrasse na União Européia (UE) e na Otan, seria impossível.

“Um golpe de Estado depôs o presidente Ucraniano em 2014?”

Alguns chamam de golpe, outros chamam de revolução, a questão é que teve protesto, teve violência, e o presidente foi deposto. Logo em seguida foram convocadas novas eleições.

A razão das pessoas terem ido para as ruas em 2014 foi que se abriu para a Ucrânia a possibilidade de entrar na União Europeia. O presidente era pró-Rússia e não acelerava as negociações. A maioria dos ucranianos queria entrar na União Européia e ter todos os direitos de migrar e trabalhar na Europa como todos os europeus.

“Os EUA querem controlar a Ucrânia para controlar o mercado europeu de gás natural?”

A dependência do gás russo é um “mal necessário” para a Europa. Países como a Alemanha parariam caso o abastecimento de gás da Rússia fosse interrompido. Por isso é normal que busquem variar o fornecimento, até porque a Rússia é um regime autoritário que não pensa duas vezes antes de mobilizar a dependência de seu gás para fins geopolíticos. Mas o gás natural não é um recurso renovável, para exportar gás é necessário ter reservas de gás e nenhum país tem reserva suficiente para substituir o fornecimento da Rússia.

“A Ucrânia não tem soberania porque está sendo influenciada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela Otan”.

Toda a controvérsia, desde 2014, começou porque os ucranianos se viram seduzidos pela possibilidade de fazer parte da União Europeia. É quase impossível ser da UE e não ser da OTAN. O atual presidente, eleito com 73% dos votos, teve como uma de suas principais pautas acelerar a entrada da Ucrânia na União Europeia. O povo ucraniano decidiu em eleições livres, com imprensa livre e oposição articulada (o que não existe na Rússia).

A Otan é expansionista sim e os EUA são imperialistas também! Mas quem decide, no fim das contas, é o povo ucraniano. Você que está aqui lendo preferiria morar em um país refém de um governo neofascista há 22 anos no poder, ou iria preferir estar no campo de influência da Europa e ter todos os direitos de um cidadão europeu? A resposta é óbvia. A soberania, no fim das contas, é do povo. O povo ucraniano quis fazer parte da UE, Putin não deixou – e isso sim é um ataque à soberania.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Walmir Estima?

Estudante de jornalismo, mestrando em Comunicação e Cultura Digital na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pós-graduado em relações internacionais. Seu tema de pesquisa é o uso geopolítico das redes sociais.


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