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Semana difícil para as mulheres

Se a crueldade parte de nós, eu não sou um de nós

Ser mulher não é nada fácil, apesar de tantos avanços que o ser humano tem feito. E digo isso como homem e tendo vergonha de ser do mesmo gênero que essas pessoas que violentam as mulheres em todos os sentidos.

por Atilla Kuş em 30/06/22 15:53

Em um artigo recentemente publicado na CartaCapital tentei trazer a minha indignação com o que aconteceu com Bruno e Dom. Aquilo foi apenas um caso que nós soubemos, pois há os que não conhecemos ainda. Pessoas desaparecem e morrem tragicamente por defenderem a vida, o meio ambiente e os oprimidos e na maioria dos casos isso não vem a tona na mídia a não ser que se trate de uma pessoa estrangeira – como foi no caso recente do desaparecimento de Bruno e Dom. Talvez tenhamos tido conhecimento deste caso porque Bruno Pereira desapareceu enquanto estava acompanhado de um jornalista estrangeiro, Dom Philips. E quanto aos casos que não sabemos e nunca saberemos? Pois é, eles sequer serão esquecidos porque nunca foram conhecidos.

Alguns leitores criticaram que eu reduzi a imagem da espécie humana apenas ao homem branco e ocidental. Porém, digo com toda a certeza que eu possa ter na vida, aquilo que eu falei acontece em todos os lugares do mundo onde há
oprimidos. Mesmo nos Estados Unidos que é um suposto paraíso de democracia, aqueles que foram voz dos oprimidos são silenciados. Um dos exemplos mais recentes é o de Enes Kanter, jogador de basquete que não pôde ser cotado em nenhum time da NBA por ter denunciado o genocídio que a China vem fazendo contra os uigures muçulmanos.

Enes Kanter crueldade

Enes Kanter denunciou o genocídio que a China vem fazendo contra os uigures muçulmanos. Foto: Roprodução Instagram

Não bastasse a tragédia que testemunhamos nestas últimas semanas, começamos a semana do dia 20 de junho com duas outras notícias de acontecimentos esdrúxulos. O primeiro é caso de uma criança catarinense de 11 anos que foi estuprada e ficou grávida. O hospital a que ela foi levada negou o seu direito de fazer aborto por se tratar de uma gestação de mais de 22 semanas, prazo máximo que a OMS recomenda para a interrupção de gravidez. Porém, a lei brasileira é muito clara no que diz respeito à interrupção da gravidez causada pelo estupro: não há um prazo máximo de semanas para fazer o aborto. A tragédia da criança começou ali no momento em que o seu direito lhe foi negado.

Mas o pior aconteceu quando a família recorreu à justiça para poder fazer esta interrupção. A juíza Joana Ribeiro Zimmer usou as suas convicções pessoais para impedir o aborto que poderia livrar uma criança do risco de saúde ou da morte, segundo os especialistas. Fiquei pensando como seria se fosse filha de uma pessoa de influência ou até a própria filha da magistrada? Será que o estuprador seria considerado pai da criança, como afirmava a juíza na audiência vazada, ou será que ele iria parar no pior presídio do Brasil para passar o resto da vida? É! A vida não é fácil para quem é pobre e mulher, infelizmente.

Outro caso foi do procurador que espancou a sua chefe em Registro-SP. À parte quem ele apoia politicamente, algo que não foi difícil de descobrir através das redes sociais dele. Mas é uma covardia sem tamanho o que ele fez se demonstrando, no linguajar popular, “valentão” contra uma mulher indefesa que era a chefe dele. Ele foi preso dois depois do ocorrido. Mas será que se fosse um homem do mesmo tamanho que ele na frente dele, será que ele conseguia sequer levantar a voz? Provavelmente não. Pelo contrário, estaria tremendo e de mãos atadas pelo erro que devia ter cometido para ser submetido a uma investigação disciplinar.

Acrescento, ser mulher não é nada fácil mesmo apesar de tantos propensos avanços que o ser humano tem feito. E digo isso como um homem mesmo e tendo vergonha de ser do mesmo gênero que essas pessoas que violentam as mulheres em todos os sentidos.

Sim, o ser humano não pode ser resumido ao homem ocidental. Mas a crueldade dos homens é mesma na China, no Afeganistão, na França e no Brasil. E se esta crueldade parte de nós, homens, eu não sou um de nós.

*Atilla Kuş – Cientista da religião, mestre e doutorando em Ciência da Religião pela PUC-SP. Membro do Centro de Estudos das Religiões Alternativas e de Origem Oriental no Brasil-CERAL da PUC-SP. 

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