Regime impede opositores de participar do pleito presidencial marcado para o próximo dia 28 de julho
Em 29/03/24 20:52
por Coluna da Sylvia
Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam
A novela já se repetiu tantas vezes, que acabou cansando a paciência de muita gente e de muitos meios de comunicação internacionais. Tanto que, nos últimos anos, deixou-se de falar desse país vizinho ao Brasil, e se impôs a narrativa de que o país tinha se “normalizado”.
Nada mais equivocado, quando olhamos os dados da macroeconomia, cada vez piores, a crise humanitária, que segue expulsando venezuelanos – segundo dados da ONU, já são 7 milhões os refugiados – prendendo ativistas e opositores, e mantendo milhares de presos políticos.
Agora, o país volta ao cenário principal por conta das fajutas eleições que devem ocorrer no próximo dia 28 de julho.
Digo “fajutas” por que?
Primeiro porque Nicolás Maduro está seguindo com sua estratégia de manter-se no poder, igualzinho, usando os mesmos artifícios, desde 2013.
Como é sua tática? Os abusos contra direitos humanos, a pobreza e a perseguição aumentam, as pessoas saem às ruas para protestar, há repressão violenta, o mundo se preocupa, Maduro aceita dialogar com a oposição (já houve 14 encontros, todos falidos), mente, afirma que haverá eleições livres. Depois, não faz nada do que prometeu e ganha fácil uma votação fraudulenta, que motiva novas manifestações, e assim a história se repete.
Desta vez, porém, o cenário parece um pouco mais desesperador. A crise econômica está mais grave, o país, mais isolado e, nos últimos meses, Maduro acirrou a repressão, inabilitando vários políticos de oposição e mandando prender líderes de organismos de direitos humanos, como Rocío San Miguel que, desde fevereiro deste ano, está encerrada no Helicóide – a maior prisão para presos políticos na Venezuela.
O último acordo com a oposição, com a chancela dos EUA, foi assinado em Barbados, em outubro do ano passado. Hoje, resta pouco dele. Afinal, seus pontos principais eram os de que o regime garantiria que as próximas eleições presidenciais fossem livres e transparente, que opositores que estavam inabilitados poderiam participar, e que não fosse Maduro aquele que escolhesse seus adversários.
Pois a ditadura parece ter rasgado esse documento. Nada dele restou. As eleições foram antecipadas de novembro para julho, para atrapalhar a oposição, os candidatos inabilitados, entre eles a escolhida pelos principais partidos opositores, María Corina Machado, continuaram se poder disputar, e Maduro escolheu seus candidatos.
Ao todo, serão 12 candidatos, mas nenhum deles pertence realmente à oposição. São meros fantoches ou opositores que se resignam ao regime em troca de favores.
Maduro quer fixar a ideia de que Manuel Rosales seria seu grande opositor. De fato, o governador do Estado de Zulia, pertence ao partido opositor Un Nuevo Tiempo. Porém, sua postulação não foi reconhecida pela Plataforma Unitária, aliança dos principais partidos de oposição, incluído o seu. Sua inscrição, nos últimos momentos do prazo final, deu-se de modo repentino e, aparentemente, com uma ajuda do próprio regime.
Como afirmou Leopoldo López em uma entrevista à Folha de S.Paulo, no último domingo, o que está marcado para ocorrer na Venezuela, no próximo dia 28 de julho, “não pode ser considerado uma eleição, pois trata-se de uma armação de Nicolás Maduro para continuar no poder”.
De fato, com apenas 15% de apoio e mais de 80% da população contra o regime, parece que seria muito difícil que Maduro ganhasse uma eleição se ela fosse legítima.
Pelo menos, esse último episódio serviu de “gota d’água” até para os aliados de Maduro na região, como Gustavo Petro (Colômbia) e Lula (Brasil). Ambos, diferentemente da postura de respaldo e aproximação à Maduro que vinham tomando, desta vez se posicionaram de modo crítico e se mostraram “preocupados” com o caminho tomado pelo ditador.
O que vem pela frente? Provavelmente mais uma volta no ciclo que descrevi acima. Salvo se Maduro recue por algum motivo. Ainda há tempo até 28 de julho, e até lá a crise e a fricção política devem aumentar de voltagem.
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