Aos 75 anos de idade, e prestes a completar 60 de profissão de jornalista, na maior parte do tempo como repórter, já dei muitas voltas pelo Brasil inteiro
Em 12/11/23 13:22
por Balaio do Kotscho
Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Foto: divulgação
“Você que é repórter me conta aí”, costumo ouvir de amigos e leitores curiosos em saber o que aconteceu ou vai acontecer pelo mundo afora, como se jornalistas soubessem de tudo ou tivessem uma bola de cristal. Coisas do tipo:
“O Botafogo ainda pode ser campeão? Quem foi o responsável pela derrocada?”
“Milei pode ganhar a eleição na Argentina? Como ficariam as relações com o Brasil?”
“Por que está demorando tanto para os brasileiros em Gaza serem liberados? O que a diplomacia brasileira poderia fazer?”
“A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura quase dois anos. Quem está ganhando? Será que nunca vai acabar?”
“Quem é culpado pelo apagão de energia em São Paulo: a Aneel, agência do governo federal, que deveria fiscalizar o serviço privatizado, a prefeitura, que deveria cuidar das árvores, ou a concessionária Enel, que demitiu 35% dos funcionários?”
“Quem está certo sobre o déficit zero nas contas públicas: Lula ou Haddad? O que é mais importante neste momento?”
“Como foi a descoberta de Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, que provocou uma corrida de 100 mil homens para a Amazônia no começo dos anos 80 do século passado?”
Jornalistas não sabem nem precisam saber de tudo, mas devem ser honestos com quem pergunta. Se não sabem, digam isso, e procurem se informar sobre aquele assunto.
Como, além desse programa no Youtube, vou continuar com o blog diário “Balaio do Kotscho”, também aqui no MY News, que em setembro completou 15 anos no ar, posso responder depois por escrito e receber perguntas para o programa seguinte.
Um meio complementaria o outro num processo de interação com os leitores para atender diretamente o interesse deles, em vez de tentar adivinhar sobre o que eu deveria falar ou escrever. Acho que isso é inédito na internet: os internautas seriam coparticipantes, ao mesmo tempo emissores e receptores de informações, tanto no blog como no vídeo.
Sei que é preciso ser muito cara de pau para, na minha idade, topar esse desafio que me foi feito pela Mara Luquet, criadora e diretora do canal. Isso é coisa para “xóvens” dirão os descrentes. Mas quem não corre o risco de errar jamais terá a alegria de acertar.
Aos 75 anos de idade, e prestes a completar 60 de profissão de jornalista, na maior parte do tempo como repórter, já dei muitas voltas pelo Brasil inteiro e rodei meio mundo em busca de boas histórias publicadas em quase todos os principais veículos da imprensa brasileira, com exceção da revista Veja. Assim de cabeça, sem consultar arquivos, lembro de algumas sobre as quais poderei falar no programa.
Comecei junto com a ditadura militar, em 1964, e acompanhei de perto a longa transição para a democracia, que teve seu divisor de águas 20 anos depois, na Campanha das Diretas Já, que está comemorando 40 anos. Tenho um livro publicado com as reportagens que escrevi para a “Folha”: “Explode um Novo Brasil – Diário da Campanha das Diretas” (Editora Brasiliense, 1984), com prefácio de Ulysses Guimarães.
Derrotada a Emenda Dante de Oliveira em abril de 1984, logo em seguida começava a campanha de Tancredo Neves, ainda no Colégio Eleitoral, que também acompanhei de perto viajando como um carrapato com o candidato pelo Brasil. Cobri todo o longo processo de agonia do primeiro presidente civil depois da ditadura e estava em São João del Rey, sua cidade natal, quando ele morreu. Vi quando o governador mineiro, Hélio Garcia, quase caiu na cova durante o enterro que não acabava nunca.
Como repórter de jornais, revistas e emissoras de TV, fiz reportagens em todos os estados brasileiros. Em Caraguatatuba, no litoral paulista, logo que entrei no Estadão, o maior jornal do Brasil na época, com 18 anos, em 1967, participei da cobertura da grande tragédia daquela enchente que soterrou parte da cidade sob os escombros da Serra do Mar, deixando mais de 400 mortos.
Estive no Ceará para cobrir a morte do ex-presidente Castello Branco num acidente de avião (levei um dia inteiro para Chegar a Fortaleza num monomotor) e, ainda no Estadão, fiz series de reportagens na Transamazônica, na construção da Usina de Itaipu, sobre o Sindicato do Crime e as grandes secas que assolavam o Nordeste. Fiz parte da equipe que foi à então Alemanha Ocidental para cobrir a Copa de 1974 e, mais tarde, revelei as circunstâncias da morte do operário Manoel Fiel Filho, pouco tempo depois do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas mesmas circunstâncias, no mesmo Doi-Codi de São Paulo, o que provocou a demissão do comandante do 2º Exército, Ednardo D´Ávila Mello. Nessa época, a barra pesou pro meu lado, mas nunca fui preso.
Peguei todo o tempo de censura prévia no Estadão, antes de publicar a série de reportagens sobre as “Mordomias”, os privilégios dos superfuncionários do governo militar, que causou grande repercussão e me deu o primeiro Prêmio Esso de Reportagem, junto com a equipe de sucursais e correspondentes do Estadão, chefiada por Raul Martins Bastos.
*
São apenas alguns exemplos de assuntos sobre os quais poderei conversar com os internautas, de acordo com o interesse e as dúvidas deles. Depois do Estadão, em 1977, a roda girou: fui trabalhar como correspondente do “Jornal do Brasil” na Europa, sediado na Alemanha Ocidental, onde cobri, entre muitos outros temas, a primeira crise do petróleo, o Acordo Nuclear, a explosão do terrorismo, as mortes de dois papas e as eleições de seus sucessores.
De volta ao Brasil, fui trabalhar na IstoÉ e depois no “Jornal da República”, do Mino Carta, quando Lula despontou como grande líder sindical no ABC Paulista, de quem ficaria amigo e depois seria assessor de imprensa, nas campanhas e no seu primeiro governo. Quando o jornal acabou precocemente, fui com uma parte da equipe para a Folha, onde trabalhei a maior parte da minha carreira, com várias passagens. Fui muito amigo de Octavio Frias de Oliveira, o publisher do jornal, que avalizou e bancou a campanha das Diretas Já assumida pelo jornal, que transformou a “Folha” no maior jornal do país, posição que ocupa até hoje.
Lá, voltei a rodar por todas as regiões do país fazendo todo tipo de reportagens de grandes obras, tragédias, secas e enchentes, acidentes, campanhas eleitorais, eleições, crises políticas e a Copa de 1986, no México.
Entre uma campanha e outra, trabalhei também na TV Globo (Globo Rural e CGCom), no SBT (primeira equipe do SBT Repórter), TV Bandeirantes (diretor do Canal 21 e do jornalismo local), CNT/Gazeta (diretor de jornalismo), revista Época, revista Brasileiros, do Hélio Campos Mello, meu velho parceiro de reportagens, e em outras redações que agora não estou lembrando.
É só pra dar uma ideia do cardápio de assuntos que podemos discutir no programa, com estreia prevista para dia 16 agora, quarta-feira, às 10h30 da manhã no Canal My News do Youtube.
Vamos nos falando e escrevendo. Até lá.
Vida que segue.
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