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Uma gangorra para Tarcísio e Zema

As últimas semanas foram de sobe e desce, uma verdadeira gangorra para os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema, de São Paulo e das Minas Gerais

por Rodrigo Augusto Prando em 16/08/23 10:06

Foto: Mônica Andrade/Governo do Estado de SP

As últimas semanas foram de sobe e desce, uma verdadeira gangorra para os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema, de São Paulo e das Minas Gerais, respectivamente. Ambos, em momentos distintos, ocuparam espaço com destaque na mídia por conta de suas declarações e ações políticas.

Cabe, antes, entender o porquê desta gangorra política-midiática. Após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro há uma disputa no bojo do bolsonarismo para ver quem ficará com o seu espólio eleitoral. Pesquisas quantitativa e qualitativas colocam Tarcísio, Michele Bolsonaro, Zema, principalmente, como aqueles que podem ganhar com a ausência do ex-presidente na próxima disputa eleitoral, em 2026. Na direita e na extrema-direita a força do bolsonarismo é considerável e não pode ser desprezada, contudo, sem Bolsonaro, há que se lembrar que o poder não fica órfão e na ausência do capitão alguém ocupará seu lugar.

Tarcísio é considerado o principal quadro com capacidade de substituir Bolsonaro. Governadores de São Paulo, independente de qual partido, sempre ocupam o espaço de potenciais presidenciáveis. Se, os atos de ataque aos três Poderes, em 08/01/23, fizeram com que Tarcísio tenha, inicialmente, se afastado de Bolsonaro e dos extremistas, suas últimas ações o colocam em evidência em temas caros ao eleitorado conservador e de perfil bolsonarista. Ações policiais desencadeadas no litoral de São Paulo resultado inúmeras mortes guindou o governador ao centro do debate ao, em suas palavras, considerar que a ação da PM não foi desproporcional. Tal fala, todavia, engendrou críticas, pois a ação e as mortes ainda não foram devidamente investigadas. Mas, se há críticas; há, também, elogio da militância e de parcela da população que se sente acuada pela violência e cobram mais vigor das polícias. Outro tema atinente aos costumes e de predileção do bolsonaristas é a educação e, neste caso, novamente, decisões do secretário de educação de São Paulo suscitaram duras críticas. Em primeiro lugar, ao se vislumbrar a retirada dos livros que sempre fizeram parte da escola pública e que seriam substituídos por livros eletrônicos; e, em segundo lugar, a ideia de que os diretores escolares acompanhassem as aulas dos professores e preenchessem relatórios semanais.

Zema, logo após o destaque de Tarcísio, procurou seu lugar ao sol, mas o resultado, provavelmente, foi pior do que o de seu colega paulista. Zema ventilou a ideia de criação de um bloco Sudeste-Sul nos moldes do bloco formado pelos governadores da Região Nordeste. Até aqui, tudo bem. O busílis da questão foram suas afirmações de caráter depreciativo aos estados nordestinos, como sendo pouco produtivos: “vaquinhas que produzem pouco”, em suas palavras. Não faz muito, Zema compartilha frase do falecido Olavo de Carvalho: “Estudar de menos e opinar demais. Essa é a melhor desgraça do brasileiro”. Os torpedos críticos foram lançados na direção de Zema: preconceituoso, separatista, crime de lesa-pátria e tantos outros impublicáveis. Diferente de Tarcísio, Zema não poderá disputar a reeleição para governador e, por isso, seus movimentos são de busca do eleitor bolsonarista. Seus valores e discursos acerca do Nordeste chocam parcela dos brasileiros, mas, certamente, cativam mentes e corações bolsonaristas e, conquistando esse eleitorado, pode vislumbrar voos mais altos.

Tarcísio afirmou, dias atrás, que não será candidato à presidência (embora seja “o” candidato no campo bolsonarista) e que apoiará quem Bolsonaro indicar. Com isso, não quer “queimar a largada” como fez João Doria. Veremos, nos próximos dias, se Zema submerge ou avança na escalada retórica. 2026 tá logo aí!


Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

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