Expor a próxima geração à ciência é fundamental para o entendimento e funcionamento pleno em sociedade
É claro que, como médico-pesquisador que sou, penso que o ensino de ciência é essencial. Mais que meu desejo e minha paixão, vivemos em um mundo onde os avanços tecnológicos e as implicações das ações dos seres humanos no meio ambiente em seu senso amplo são cada vez mais importantes e presentes.
Nesta nova realidade, é fundamental que o indivíduo tenha um entendimento da ciência e do método científico — tanto suas belezas quanto as limitações — para funcionar em sociedade. Como qualquer outra matéria, a exposição precoce e consistente é o caminho.
Há uma identidade entre os anseios das crianças e dos jovens e os desígnios da atividade de pesquisa. A criança é, acima de tudo, um ser explorador e curioso. Como disse o compositor, ator e escritor australiano Tim Minchin, a ciência é uma palavra que se usa para descrever um método de organizar a curiosidade.
Já o jovem é contestador e rebelde, outros atributos importantes para a pesquisa científica. Segundo a antropóloga norte-americana Zora Hurston, “a pesquisa é uma maneira formal de desenvolver a curiosidade. É atiçá-la com um propósito”. O cientista é, acima de tudo, um descontente com o status quo.
No topo de tudo isto, há a importância da ciência para o dia a dia. O entendimento da crise climática, por exemplo, passa inevitavelmente pelo conhecimento científico que temos até o momento. O mesmo vale para as vacinas de RNA, a medicina de precisão, a edição gênica, a clonagem, os alimentos transgênicos — apenas para ficar nos eventos da minha área. Essas são todas “novidades” que farão cada vez mais parte da nossa vida.
Estamos vendo os efeitos desastrosos da falta de entendimento que uma grande porção dos seres humanos tem da ciência biológica. As pessoas sem conhecimento não conseguem lidar com o novo, e nem com a incerteza natural deste campo. Poderia escrever muitas laudas apenas sobre os enganos envolvendo vacinas contra o SARS-CoV-2: desde o tempo que demoraram (ou não) para serem produzidas até a suposta inserção do RNA no nosso genoma, sem me esquecer das falácias sobre a esterilização em massa e a aplicação de “chips”. Estes são apenas indicadores de uma falha global no sistema de ensino e comunicação de ciência.
Não é razoável que sigamos tratando o ensino de ciência como um acessório. O presente já requer, e deu mostras disso, que as pessoas entendam ciência da mesma forma que saibam as quatro operações matemáticas.
Ciência necessita de exposição precoce, especialmente às crianças. Assim como um componente alimentar, o ser humano nunca saberá o gosto de uma fruta que nunca provou. A nossa incapacidade de comunicar ciência tem que ser revista há tempos. Richard Feynman, físico teórico norte-americano, já disse que: “se você não acha a ciência divertida, é porque você está aprendendo com o professor errado”.
As barreiras percebidas para o estudo da ciência no que diz respeito às necessidades materiais são errôneas. Ciência é uma forma de pensar e, portanto, requer imaginação para ser ensinada. A vantagem de repassar esse conhecimento principalmente às crianças é que o destinatário já vem com a imaginação pronta. Ainda assim, parece claro que um conjunto de circunstâncias precisam ser endereçadas. A saber:
Luiz Vicente Rizzo é diretor superintendente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein e Docente do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências da Saúde, da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein
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