A busca pela prática de atividade física não beneficia somente o corpo, como também melhora o funcionamento cerebral
por Carla Giuliano de Sá Pinto Montenegro em 18/01/22 14:51
Estamos enfrentando a era do sedentarismo, infelizmente. Mais da metade da nossa população não atinge a recomendação mínima de atividade física de 150 minutos semanais, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). As sequelas da falta de exercícios físicos regulares se refletem nos dados epidemiológicos de saúde, com o aumento do número de pessoas com obesidade, doenças cardíacas (como a hipertensão arterial), doenças metabólicas (como diabetes e câncer), e com repercussão até mesmo no desempenho cognitivo e na saúde mental.
Mais preocupante ainda é o impacto do sedentarismo nos nossos jovens, durante a principal fase de desenvolvimento do nosso cérebro — órgão responsável por comandar nosso raciocínio, pensamento, movimento, sentimentos e todas as nossas funções fisiológicas.
O cérebro em desenvolvimento é sensível a todos os tipos de estímulos, que podem desempenhar um papel promotor ou detrator, e a atividade física de forma regular tem uma grande ação sobre os mecanismos fisiológicos do desenvolvimento cerebral. Os benefícios são vistos tanto de forma aguda (imediatamente após a atividade), como de forma crônica (a longo prazo) e são amplamente reportados na literatura científica.
De forma aguda, por exemplo, nos beneficiamos da atividade física com o aumento do fluxo sanguíneo cerebral, fornecimento de nutrientes e melhora da atividade de neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios que desempenham papel de mensageiros entre as células).
Esse benefício se torna ainda mais acentuado quando acumulamos as sessões, dia após dia, gerando adaptações crônicas — que, no sistema nervoso, impactam na adaptação de estruturas cerebrais (melhorando a atividade de todas as estruturas do cérebro), no aumento da neurogênese (formação de novos neurônios) e na plasticidade cerebral, que desenvolvem a capacidade dos neurônios de se recuperarem e de reestruturarem suas funções. Com isso, impactam fortemente no desempenho cognitivo, na velocidade de disparos elétricos dos neurônios e na memória de trabalho.
Modelos norte-americanos de ensino-aprendizagem preconizam a prática de atividade física na hora que antecede as aulas escolares justamente porque esses benefícios são tão refletidos no desempenho cognitivo de crianças e jovens! Além da cognição, o estímulo da atividade física no cérebro em desenvolvimento favorece o equilíbrio químico, com a produção de neurotransmissores (como a serotonina, dopamina, endorfina, adrenalina, noradrenalina, entre outros), que estão relacionados às emoções e sentimentos, e favorecem o gerenciamento emocional.
Quantidade certa
Se para adultos a recomendação mínima de atividade física, segundo a OMS, é de 150 minutos/semana, para as crianças e adolescentes a orientação é de, no mínimo, 300 minutos semanais de atividade física moderada a vigorosa!
Quando citamos atividade física, estamos nos referindo a qualquer movimento corporal que tire o indivíduo do repouso! Não se tratam, portanto, somente de atividades estruturadas como esportes.
A intensidade, porém, deve ser de moderada a vigorosa. Por exemplo, aquela atividade em que a criança faz, mas não consegue falar o tempo inteiro durante a prática.
A grande questão é que estamos cada vez mais distantes de atingir essa recomendação, uma vez que os espaços a serem explorados pelas crianças por meio do movimento estão reduzidos. Há pouco espaço nas residências e mesmo os momentos de lazer ou nas escolas são preenchidos com muito tempo em que as crianças e adolescentes passam sentados, expostos às telas. Exemplos de familiares também faltam, já que mais da metade da população não atinge a recomendação mínima de atividade física. As crianças que possuem pais fisicamente ativos têm maior chance de serem ativas também.
Por isso, se você quer impactar positivamente o cérebro em desenvolvimento, estimule o movimento! Favoreça e proporcione às crianças momentos para correr, brincar, pular e rolar! Reduza na rotina o tempo sentado — o ideal é que, a cada hora que a criança passe sentada, ela se movimente por, no mínimo, cinco minutos. O cérebro agradece!
Carla Giuliano de Sá Pinto Montenegro é profissional de Educação Física e Coordenadora da Pós-Graduação em Atividade Física do Hospital Israelita Albert Einstein.
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