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Os 30 anos da morte de Pablo Escobar

Livro recém-lançado reflete sobre perseguição e fascínio exercido pelo narcotraficante

Em 30/11/23 11:03
por Coluna da Sylvia

Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam

Neste sábado (2 de dezembro), completam-se 30 anos da morte do mais importante e conhecido narcotraficante da Colômbia e quiçá, do mundo, Pablo Escobar, que foi baleado por uma força-tarefa que passou meses buscando-o para eliminá-lo. Escobar estava escondido numa casa suburbana, em Medellín, e quando foi descoberto, tentou fugir pelo telhado, mas não teve sucesso. Tinha 44 anos.

É difícil mensurar a quantidade de horror que Escobar trouxe para este nosso país-vizinho. Políticos, ex-presidentes, candidatos e ministros, além de juízes e magistrados, jornalistas, donos de jornais e civis, que morreram devido às tantas bombas que fez explodir nas cidades, sem contar um voo da Avianca, derrubado em pleno ar, foram das tantas mortes que causou.

É mórbido e lamentável que Pablo Escobar seja hoje um ícone pop, que estampa camisetas que os turistas compram, ou que seja figura buscada por jovens para tatuar-se, que se dediquem músicas e séries e que sua sepultura, em Medellín, seja visitada praticamente todos os dias do ano por turistas do mundo todo.

Enquanto vivia, Escobar era amigo de celebridades do futebol, namorava jornalistas e atrizes, dava festas animadas por figuras importantes do cenário musical.

Quando finalmente se entregou à polícia, foi levado a uma prisão que pouco tinha de um verdadeiro cárcere. Era uma propriedade escolhida por ele mesmo, onde havia luxos, podiam entrar convidados seus _até alguns representantes da seleção colombiana da época foram ali jogar um amistoso. Além disso, lá se planejavam atentados, envios de droga ao exterior e a divisão de poderes nos bairros de Medellín onde Escobar atuava.

As autoridades se cansaram do que era uma burla, uma vergonha às instituições, e o então presidente Cesar Gaviria decidiu mudar Escobar de cárcere, levando-o a uma prisão mais controlada. A iniciativa provocou um motim e a fuga do chefe narco, além de vários de seus apoiadores.

O livro do ex-general e ex-vice-presidente da República Óscar Naranjo, “El Derrumbe de Pablo Escobar” (ed. Planeta, importado), recém-lançado na Colômbia, conta bastidores da busca pelo criminoso _operação da qual participou quando era um jovem major, assim como reflete sobre a sobrevivência de Pablo Escobar como um ícone nos dias de hoje. Num momento em que a violência ligada ao narcotráfico cresce na Colômbia, estudar a trajetória desses poderosos “capos” da droga é um exercício pertinente.

Nos anos mais sangrentos da atuação do Cartel de Medellín, foram executivos o candidato à Presidência Luis Carlos Galán Sarmiento, favorito à vitória em 1989, o ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, que em seus discursos mencionava pela primeira vez os “dinheiros sujos”  (ou seja, provenientes do narco) para financiar campanhas, o diretor de Redação do El Espectador, Guillermo Caño, executado por sicários na saída do jornal, à noite, e a jornalista Diana Turbay, entre tantos.

Os assassinatos eram o principal fator de pressão política do grupo, que lutou, e conseguiu, que na Constituição colombiana ficasse inscrito um artigo que proibia a extradição de criminosos colombianos aos EUA. Uma vez que a droga que produzia o cartel ia para o país do norte, os criminosos temiam ser processados lá. O lema dos chamados “extraditables” era “prefiro um túmulo na Colômbia do que a prisão nos EUA”. Acabaram conseguindo.

Os anos 1980 e 1990 foram marcados por dois cartéis, o de Medellín (comandado por Escobar) e o de Cali, que era menos violento e tinha uma estrutura mais parecida à da máfia italiana. Puniam com a morte traidores, mas não estouravam bombas em shoppings ou nas ruas apenas para assustar e subjugar a popução e legitimar suas fronteiras, como fazia o de Medellín.

Exterminar Escobar começou com uma força-tarefa da polícia, logo foram agregados o Exército e, uma decisão temerosa, a entrada de outros narcos, inimigos de Escobar, os chamados Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar), que foram essenciais para sua captura e morte.

Naranjo nos traz o diário dessa busca, as questões éticas com que se enfrentaram as autoridades até admitir que, sem a ajuda do crime organizado, não poderiam chegar a Escobar. Há, também, reflexões de 30 anos depois. Perseguir com tanta sanha a Pablo Escobar resolveu o problema de fundo do narcotráfico na Colômbia, ou não fez nenhuma diferença, ou o agravou?

Mais que nada, o livro traz uma reflexão sobre esse período sangrento, lembra suas vítimas e ajuda a olhar para trás de modo crítico, num momento em que a América Latina volta a enfrentar uma escalada de violência relacionada ao tráfico ilegal de drogas.

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