Judeus não podem ser responsabilizados pelas decisões dos líderes israelenses, assim como muçulmanos não são responsáveis pelas decisões dos líderes palestinos
por Judeus pela Democracia em 16/05/21 16:14
O Judeus pela Democracia é um grupo formado por judeus progressistas brasileiros. Criado pouco antes das eleições de 2018, revoltados com o apoio, supostamente oficial, da comunidade do Rio de Janeiro ao então candidato Bolsonaro (o que foi, acima de tudo, um desrespeito à pluralidade da comunidade judaica). Atuamos desde então na luta pela democracia e direitos humanos no Brasil.
Não costumamos nos manifestar publicamente sobre o conflito Israel e Palestina. Não fazemos porque entre nós não há consenso. E por que deveria de haver? O fato de sermos judeus não nos dá conhecimento “automático” para falar sobre o tema.
O conflito é um dos temas mais complexos da política internacional dos séculos XX e XXI, com capítulos complexos, permeado por discursos maniqueístas e mentiras que afetam diretamente o imaginário das militâncias internacionais da direita e da esquerda.
Dito isso, nos manifestamos excepcionalmente por conta da escalada de violência dos últimos dias para pedir, urgentemente, que algumas regras no discurso sejam consideradas, sobretudo na busca de se evitar discursos de ódio antissemitas ou islamofóbicos.
Primeiro, “judeu” ou “muçulmano” são termos que se referem a grupos étnico-religiosos no mundo inteiro. “Palestinos” ou “Israelenses” são identidades nacionais. Também é preciso rever a aplicação do termo “sionismo”, que nada mais é do que a crença no direito do povo judeu à autodeterminação. Nem todas os sionistas compartilham da mesma opinião sobre a divisão do território e princípios de Israel. Hoje vemos o termo sendo usado de forma pejorativa, como sinônimo de abuso ao povo palestino. Isso é pesado de se ouvir, sobretudo para um sionista que não coaduna com políticas de opressão aos palestinos.
Os termos “árabe” e “islamismo” também precisam ser utilizados corretamente. Enquanto o primeiro é um grupo diverso de pessoas cuja língua materna é o árabe, o segundo é um termo que se refere a um espectro de ideologias. “Árabe” ou “islâmico” jamais podem ser utilizados como sinônimos de terrorismo.
Outro ponto importantíssimo: judeus não podem ser responsabilizados pelas decisões dos líderes israelenses, assim como muçulmanos não são responsáveis pelas decisões dos líderes palestinos. São comunidades plurais e não têm posições políticas pré-determinadas, neste ou em qualquer assunto. O mesmo se aplica a cidadãos israelenses ou palestinos. Imaginem se todos os brasileiros fôssemos responsáveis pelas decisões de nosso governo?
Considerando os parágrafos acima fica mais fácil entender o próximo ponto: não afirme que muçulmanos devem deixar a Palestina porque eles têm o resto do Oriente Médio inteiro. Também não afirme que judeus israelenses devem “voltar de onde vieram”. Falar de “teorias da conspiração” também é necessário: Israel não é uma conspiração para dominar o Oriente Médio e compará-lo com a Alemanha Nazista é ultrajante. A Palestina não é conspiração para forçar um Califado em Israel ou no Mundo. Achar que a Palestina é o Daesh/Estado Islâmico é absurdo.
E o mais importante: israelenses e palestinos são seres humanos que enxergam seus territórios como “lar”. Celebrar a morte de qualquer um dos dois é inaceitável.
Por último, fica o recado do JPD: seja sensível às pessoas pró-Israel ou pró-Palestina (ou os dois, simultaneamente) – eles podem ter amigos/família envolvidos na situação ou Israel/Palestina podem representar algo importante para eles, como o senso de luta, ou um lugar de segurança em tempos de perseguição.
O coletivo Judeus pela Democracia é um grupo de judeus pela defesa do Estado Democrático de Direito e na luta contra o fascismo, o racismo, o machismo e a lgbtfobia.
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