Mercado e até o governo trabalham com possível volta do benefício
por Vitor Hugo Gonçalves em 26/01/21 14:17
A descontinuidade do auxílio emergencial para 2021 impactou boa parte de seus beneficiários. Foi o que mostrou pesquisa Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de janeiro.
O levantamento apontou que 69% dos brasileiros que receberam o auxílio emergencial durante os últimos meses não conseguiram encontrar outra fonte de renda capaz de substituir o benefício financeiro – ou seja, praticamente sete em cada dez beneficiários.
Segundo o Datafolha, 83,8 milhões de cidadãos solicitaram o subsídio, número que corresponde a 40% da população brasileira. Dessa totalidade, 89% já receberam a possível última parcela – na média, foram pagas, a cada beneficiado, 4,5 parcelas do auxílio.
Registrou-se também que 38% dos favorecidos afirmaram ter economizado recursos para quando o auxílio terminasse.
Nas últimas semanas, a continuidade ou não do auxílio emergencial virou pauta de debate entre parlamentares (na avaliação de deputados e senadores, uma das primeiras providências desse ano deverá ser a votação da PEC Emergencial). Ela também marcou presença nos protestos contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no último sábado (23).
Esse debate, bem como uma possível volta do auxílio emergencial, também estão de volta ao mercado. Gustavo Akamine, analista da companhia Constância Investimentos, diz que já são considerados dois cenários, com e sem a assistência emergencial.
“Sabe-se que em períodos como o que estamos vivendo agora, é comum, caso haja um rompimento muito grande da economia, ter uma reação com estímulos maiores, para pelo menos suavizar o impacto na economia”.
Em ações e investimentos voltados para o combate à pandemia, o governo federal já desembolsou mais de R$ 524 bilhões, sendo que R$ 293 bilhões foram diretamente para o auxílio emergencial. A economia doméstica vem enfrentado sérios problemas para reagir, e o fim da ajuda monetária à população em 2021, embora reduza o rombo fiscal, esfria o mercado interno.
Akamine reconhece que há uma pressão adicional para a volta do auxílio, seja por parte da população ou de políticos, acrescida pela queda de popularidade do Bolsonaro. Contudo, pondera que, “por outro lado, há essa conta para ser paga no futuro.
“Todo dinheiro que hoje é injetado na economia tem, em contrapartida, um endividamento. Então, pela arrecadação que tivemos, todo mundo sabe que é uma conta que vai ser difícil de passar, mas é preciso”.
Em 2020, a arrecadação federal foi de R$ 1,5 trilhão, uma queda de 6,91% em relação a 2019 e o resultado mais baixo em 10 anos.
Uma saída, segundo o analista, seria buscar reformas, diminuir os gastos, tudo para tentar entrar com o auxílio agora, por mais que seja um desafio gigante, devido ao nível de endividamento.
“Para o futuro, o quanto essa dívida vai representar é mais do que foi o esforço gasto com a reforma da previdência, por exemplo”, completou Akamine.
O fim do subsídio para a maioria das pessoas foi responsável pela queda percentual de renda das famílias afetadas pela pandemia, segundo a pesquisa. Entre os que receberam alguma parcela do benefício, 58% afirmaram ter perda de renda, ante 51% em dezembro.
12% confirmam aumento no faturamento mensal, oscilação dentro da margem de erro, tendo em vista que na última pesquisa o número foi de 14%. Em dezembro, o auxílio garantiu a manutenção do nível financeiro familiar para 34% dos entrevistados – em janeiro, o percentual foi para 29%.
O fim do programa emergencial está entre os fatores que contribuíram significativamente para o aumento na reprovação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo pesquisa Datafolha, o chefe do Executivo é avaliado como ruim ou péssimo por 40% da população, 37% o consideram ótimo ou bom.
Embora haja pressão para prorrogar o benefício, o gasto adicional foi descartado pelo Ministério da Economia, caracterizado, por grande parcela do mercado financeiro, como um risco para a política monetária nacional.
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