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Economia

Indústria automotiva

Ford fecha fábricas e anuncia encerramento de produção no Brasil

Nas redes sociais, empresários e políticos criticam ‘custo Brasil’ e agenda econômica do governo federal

por Rodrigo Borges Delfim em 12/01/21 11:26

Atualizado às 19h43 de 11 jan.2021

Primeira montadora de veículos a se estabelecer no Brasil, em 1919, a Ford vai colocar um fim na sua trajetória já centenária no país. O anúncio foi feito pela montadora nesta segunda-feira (11).

Serão encerradas imediatamente as atividades nas unidades de Camaçari (BA) e de Taubaté (SP). A primeira era dedicada à produção dos modelo Ka e EcoSport, enquanto a segunda era focada em motores e transmissões. Ambos os veículos serão vendidos até quando durarem o estoques.

Também pertencente ao Grupo Ford, a fábrica da Troller, em Horizonte (CE), encerra as atividades no segundo semestre.

Estimativas da própria montadora indicam que 5.000 pessoas devem ser afetadas no Brasil e na Argentina. As operações no país vizinho sofrerão ajustes em razão do fechamento das unidades em solo brasileiro.

Só em Taubaté (SP), de acordo com o sindicato local, são 830 trabalhadores afetados.

Ao programa Dinheiro na Conta, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) informou que lamenta, mas não comentaria a decisão da Ford. Contudo, disse o fechamento “corrobora com o que a Anfavea tem alertado sobre o Brasil, no qual o setor tem sido prejudicado pela pandemia e pela falta de medidas que ajudem a reduzir o custo Brasil”.

Efeitos da pandemia

Com o fim da produção no Brasil, o mercado nacional passará a ser atendido por unidades produzidas em outros países da América do Sul, como Argentina e Uruguai.

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford, no comunicado à imprensa.

De acordo com o comunicado, “a pandemia de Covid-19 amplificou a persistente capacidade industrial ociosa e a queda nas vendas, que resultaram em anos de perdas significativas”.

A montadora disse trabalhar em conjunto com os sindicatos de trabalhadores de maneira a reduzir os impactos

Ainda serão mantidas pela Ford no Brasil a sede regional sul-americana, em São Paulo, o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, e o Campo de Provas, em Tatuí (SP).

Fábrica da Ford em Camaçari (BA),
Fábrica da Ford em Camaçari (BA), uma das que serão fechadas com o fim da operação da montadora no Brasil.
(Foto: Divulgação)

Revisão global e nacional

A Ford estima que o fim da produção no Brasil terá um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021.

A montadora admite que está revendo seus negócios de maneira global para manter uma geração de caixa sustentável. Também disse que manterá assistência ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul.

A Ford já dava sinais de que seus negócios não iam bem no Brasil. Em 2019, encerrou a planta localizada em São Bernardo do Campo (SP) e cobrava do governo federal incentivos, como um plano de renovação de frota.

De acordo com estimativas da Receita Federal citadas pelo jornalista Lauro Jardim, a Ford recebeu cerca de R$ 20 bilhões em incentivos fiscais no Brasil desde 1999.

Atualmente a Ford ocupa a quinta posição no mercado brasileiro, respondendo por 7,06% do total, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). A pioneira do setor no Brasil figurava atrás de General Motors [que produz os veículos da marca Chevrolet], Fiat-Chrysler, Volkswagen e Hyundai.

De acordo com outra associação do setor, a Anfavea, a Ford produziu 119.454 automóveis no Brasil em 2020, ficando atrás de General Motors, Volkswagen, Fiat-Chrysler, Hyundai e Renault. O resultado representa uma queda de 39% em relação a 2019.

Visão de políticos e empresários

O fechamento das fábricas da Ford no Brasil também foi repercutido pela classe política e empresarial. A maioria das personalidades que comentaram o assunto colocou na conta do governo federal e de sua agenda econômica o adeus da montadora.

“O fechamento da Ford é uma demonstração da falta de credibilidade do governo brasileiro, de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional”, criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em postagem no Twitter.

Já o empresário Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro, a saída da Ford do Brasil se deve ao “péssimo ambiente de negócios no país”. E criticou a briga de Maia com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, segundo ele, paralisa as reformas necessárias para a economia.

O vice-presidente nacional do PDT, Ciro Gomes, vê uma mudança de governo como única saída para evitar o que chamou de “desindustrialização do Brasil”.

Um dos fundadores do Partido Novo, o banqueiro João Amoêdo fez coro à Anfavea e criticou o “custo Brasil”, que supera os benefícios governamentais já concedidos ao setor automotivo.

O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub não fez críticas ao governo e atribuiu a saída da Ford do Brasil a uma decisão estratégica e global da empresa.

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