Especialistas já enxergam como “inevitável” a retomada do auxílio emergencial neste ano
por Rodrigo Borges Delfim em 26/01/21 20:58
O debate em torno do auxílio emergencial definitivamente voltou para a cena política e econômica brasileira. A permanência da situação de crise gerada pela pandemia segue afetando a economia e a renda dos brasileiros mais pobres.
Esse quadro ganhou novos contornos diante de pesquisa Datafolha, divulgada na segunda-feira (25). Ela que apontou que 69% dos brasileiros que receberam o auxílio emergencial durante os últimos meses não conseguiram encontrar outra fonte de renda capaz de substituir o benefício financeiro – ou seja, praticamente sete em cada dez beneficiários.
Diante de tal cenário, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, admite uma possível volta do benefício caso o governo “fracasse” na vacinação contra a Covid-19, sob a condição de travar recursos para outras áreas.
“Quer criar o auxílio de novo? Tem que ter muito cuidado. Pensar bastante, pois, se fizer isso, não pode ter aumento automático de verbas para educação, para segurança pública, pois a prioridade passou a ser absoluta, é uma guerra. Aqui é a mesma coisa, se apertar o botão ali, vai ter que travar o resto todo”, disse durante evento do Credit Suisse na segunda-feira (25).
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), presente no mesmo evento que Guedes, foi em outra direção e disse que o compromisso agora do governo é com o teto de gastos, suspenso em 2020 em razão da pandemia. “Não vamos deixar medidas temporárias, relacionadas com a crise se tornarem permanentes de despesas”.
Por outro lado, o assunto auxílio emergencial também ganha corpo no Congresso Nacional. E os dois candidatos apoiados pelo governo às presidências da Câmara e do Senado defendem a volta do benefício.
“É preciso encontrar um caminho para se socorrer essa camada social muito atingida pela economia. Obviamente que temos que observar ajuste fiscal, teto de gastos públicos, não gastar o que se tem, mas por outro lado há um estado de necessidade muito grave de pessoas que precisam de amparo do Estado e é esse o maior desafio que já temos no começo de fevereiro”, afirmou, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado.
Já Arthur Lira, apoiado pelo Planalto para dirigir a Câmara, defende um auxílio emergencial “de uma forma que o mercado possa suportar”.
Além da pressão de dentro do Congresso, demandas chegam de fora de Brasília. Secretários de Fazenda de 18 estados enviaram uma carta aos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pedindo o retorno do auxílio emergencial.
“O efeito colateral, negativo, que é o aumento do endividamento, é menor do que o efeito positivo em termos econômicos dessa injeção de liquidez, disse Rafael Fonteles, secretário de Fazenda do Piauí e presidente do Comsefaz (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Fazenda).
Para Fernando Aquino, conselheiro coordenador da Comissão de Política Econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia), a prorrogação do auxílio emergencial é inevitável.
“O importante é que a gente consiga ter esse tipo de gastos agora, que é necessário, tanto para assegurar a renda e sobrevivência das pessoas como para sustentar a economia.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também vê o possível retorno do auxílio emergencial como algo que vai na mesma linha, apesar da questão fiscal. “Acho inevitável que ele vá aparecer de novo nos próximos meses. E aí tem toda a questão fiscal por trás disso”.
O economista ressalta, no entanto, que o benefício atua como uma espécie de “tapa-buraco” e posterga o debate sobre a viabilidade de um programa permanente de distribuição de renda. “O complicado dessa discussão é que não se entra como deveria sobre o que fazer depois disso, na porta de saída desse programa”.
Gustavo Akamine, analista da companhia Constância Investimentos, diz que no mercado financeiro já são considerados dois cenários, com e sem a assistência emergencial.
“Sabe-se que em períodos como o que estamos vivendo agora, é comum, caso haja um rompimento muito grande da economia, ter uma reação com estímulos maiores, para pelo menos suavizar o impacto na economia”.
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