Gabriela Lisbôa

GUERRA NA UCRÂNIA

MyNews na Ucrânia: série mostra como está a vida em Lviv, a cidade refúgio

A equipe do MyNews passou 10 dias em Lviv, no Oeste da Ucrânia e a partir de hoje, uma série de vídeos mostra como foi possível entrar no país em guerra e como está a vida na cidade que ainda é considerada segura.

por em 19/04/22 16:29

Acho que eu levei alguns dias para realmente entender que viagem era aquela. Os preparativos começaram quase como uma viagem de férias. Procuramos hotel, passagens, informações sobre as cidades, a moeda, malas, casacos, remédios para uma possível gripe no inverno do leste europeu… A ficha só caiu quando chegamos em uma questão: coletes à prova de balas e capacetes. Sim, precisávamos comprar os equipamentos de segurança e isso não foi fácil.

No Brasil é preciso uma autorização especial. Em Portugal, segundo me contou o dono de uma loja de armas, esses equipamentos estão esgotados porque as pessoas compraram para enviar à Ucrânia. A busca levou dias, por fim, conseguimos nos Estados Unidos coletes com o nível de segurança indicado pela OTAN. Aí sim, estávamos prontos para embarcar rumo à Ucrânia, país em guerra desde o dia 24 de fevereiro de 2022, quando começou a invasão russa. O objetivo era chegar na cidade de Lviv, no Oeste do país, perto da fronteira com a Polônia.

Eu levei o mínimo possível. Além da roupa do corpo, três blusas de lã, uma blusa térmica, uma calça e uma camiseta para dormir – no caso de eu precisar acordar e correr para algum abrigo – touca, luvas, protetor solar, escova de dentes e desodorante. Na mochila, equipamentos como microfones, carregadores e estabilizador para o celular. Em uma viagem assim, pensei, melhor levar apenas o que eu posso carregar.

Fui com o editor e cinegrafista Cezar Fernandes. Nossa primeira parada foi Varsóvia, na Polônia, país que faz fronteira cm a região noroeste da Ucrânia e que, até agora, já recebeu mais de 2 milhões de refugiados. A Polônia não está em guerra, mas tudo acontece tão perto que existe uma tensão no ar, um questionamento eterno sobre até onde a guerra vai. Além disso, a capital está lotada. Cada trem que chega traz mais pessoas em busca de ajuda para recomeçar a vida. Na estação central, vários países da Europa montaram estandes para receber os interessados em buscar refúgio nas suas cidades.

Quem prefere, pode ir para um dos centros de refugiados de Varsóvia. No que fica na Global Expo, cabem cerca de 3 mil pessoas. O prédio, que costuma receber grandes eventos, foi adaptado e agora tem dormitórios, áreas de recreação para crianças e área para animais de estimação. Para entrar, a checagem de documentos é rígida por conta da ameaça do tráfico de pessoas. Delegações de vários países chegam para buscar quem pretende recomeçar em outro lugar. Quando chegamos, um comboio de ônibus e vãs do governo português se organizava para partir com 150 pessoas que aceitaram ir para Lisboa em troca de alojamento e emprego. Mesmo com as facilidades oferecidas, a maioria espera pelo milagre do fim da guerra enquanto relutam a aceitar que precisam recomeçar. Reconstruir a vida com o pouco que conseguiram colocar dentro das malas.

Uma dessas pessoas é a Iryna Obratenko, uma manicure que vivia no leste ucraniano até a chegada das tropas russas. Encontramos ela no apartamento onde vive agora junto com a anfitriã, Konstancja Golda, uma estudante de letras que fala um português perfeito, além de inglês e um pouco de russo, língua em que as duas se comunicam.

polonesa (amarelo) recebe refugiada em casa

Iryna e Konstancja seguram desenho feito para uma exposição que pretende ajudar refugiados. Foto: Cezar Fernandes

Logo no início da guerra, Konstancja decidiu se cadastrar em uma ONG para receber refugiados. Iryna chegou poucos dias depois, assustada e traumatizada. Ela tinha passado vários dias em um abrigo antibombas, com o marido, até conseguir pegar um ônibus para Lviv e, de lá, um trem para a Ucrânia. Foi um choque chegar em uma cidade calma, “com um céu azul”, como ela contou, tão diferente do cinza que ela deixou no Leste ucraniano, e descobrir que vários amigos já tinham perdido suas casas e, alguns, suas vidas. O marido continua na Ucrânia, homens com menos de 60 anos não podem sair, precisam ficar à disposição do exército, caso seja necessário.

Hoje Iryna trabalha em salão de beleza de Varsóvia como manicure, enquanto tenta aprender polonês. O presente é difícil e o futuro ainda não existe.

A partir de hoje nós vamos mostrar um pouco dessa viagem e contar algumas dessas histórias no canal MyNews. Enquanto isso, divido com vocês, por aqui, o que vimos e sentimos enquanto estávamos lá. Foi tenso, mas também foi emocionante. Aqui embaixo está o primeiro vídeo, espero que gostem!

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