No começo desta sexta-feira (25), segundo dia da invasão das tropas russas à Ucrânia, Kiev registrou aumento nos bombardeios vindos dos russos. A teoria de que a Rússia pretendia tomar a cidade ficou confirmada com a entrada das forças militares por terra, o que foi anunciado pelo The New York Times entre 9h e 10h – início da tarde na Rússia e Ucrânia.
A Ucrânia ainda não confirmou essa entrada oficial, mas o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, afirmou que a cidade está em fase defensiva. O governo confirmou a chegada de veículos militares ucranianos para defender a capital.
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O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, está em Kiev e afirmou num pronunciamento na quinta (24) que é o alvo número um da Rússia, e que o número dois é a sua família. Ele também disse que a Ucrânia foi abandonada pelo ocidente e pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “Quem está disposto a lutar conosco? Não vejo ninguém”, questionou Zelensky.
O Ministério da Defesa da Ucrânia recomendou aos moradores da capital para que se defendessem dos russos com coquetéis molotov. Redes de televisão ucranianas têm transmitido instruções de como preparar os coquetéis em casa. Ainda antes do início dos combates, houve relatos de instruções feitas em escolas, nas quais os professores ensinaram os alunos a reconhecer bombas e se defender de situações de perigo.
Nenhum país ofereceu forças militares para lutar com a Ucrânia contra a Rússia, apesar de diversas reações internacionais contrárias à guerra. Nesta sexta, a França anunciou que pode oferecer segurança, “se necessário”, ao presidente Zelensky. A afirmação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.
Ainda na quinta-feira (24), o presidente Joe Biden, em pronunciamento feito na Casa Branca, declarou que pretende enviar 7 mil soldados americanos à Europa, mas que eles não devem entrar no território ucraniano e que o objetivo é proteger as fronteiras dos países membros da Otan.
Até o momento, as sanções mais significativas à economia russa partiram da União Europeia e dos Estados Unidos. As medidas, no entanto, são tidas como limitadas pelo especialista em política internacional Caio Blinder.
“O que se chama de pacote de sanções raramente funciona. Um caso raro foi África do Sul durante o apartheid. […] O efeito é muito limitado. Muito mais punitivo e um certo show de diplomacia”, afirmou Blinder em entrevista ao Cruzando Fronteiras desta sexta-feira (25). Segundo ele, as medidas impostas têm um “papel muito mais punitivo do que persuasão ou de alteração de comportamento”.
Num cenário de queda do governo ucraniano, o que já começa a ser cada vez mais palpável com a chegada dos russos em Kiev, o plano de Putin deve ser instaurar um líder pró-Rússia no país. É o que afirmou o professor de Relações Internacionais Faculdade Getúlio Vargas (FGV) Vinicius Rodrigues Vieira, em entrevista ao Café do MyNews desta sexta.
“Provavelmente alguém da Ucrânia [a ocupar a chefia do país] para assegurar o mínimo de legitimidade, as aparências: por mais que a guerra seja brutal, isso acaba importando”, comentou o professor.
A quinta-feira (24) começou para os ucranianos com a concretização do conflito que vinha se anunciando desde o fim de 2021. Diferente do que era esperado, os bombardeios não ficaram somente na região de Donbass, ao leste da Ucrânia, onde estão as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk.
Esses territórios que se identificam como russos tiveram a independência reconhecida por Putin na segunda (21). Na ocasião, o presidente também anunciou que enviaria apoio militar à região, mas ainda afirmava que não tinha interesse em combate armado.
Kiev, distante da região de Donbass, registrou ataques e orientou que os cidadãos se encaminhassem às estações de metrô – transformadas em bunkers – quando as sirenes tocassem. Mas os ataques aéreos não ficaram somente na capital e se estenderam por pelo menos 25 regiões, inclusive onde está localizada a Usina Nuclear de Chernobyl.
O ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse que se a Rússia continuar com a guerra, Chernobyl pode acontecer novamente em 2022, em referência à possibilidade de uma violação dos instrumentos utilizados para evitar uma exposição do material nuclear.
Segundo a Ucrânia, os ataques da Rússia nas primeiras 24 horas de conflito deixaram 137 pessoas mortas e 316 feridas. Esses números são incertos tanto do lado da Rússia quanto da Ucrânia, pela dificuldade de registro. A Organização das Nações Unidas (ONU) fala em pelo menos 25 civis mortos pelos bombardeios.
A Agência da ONU fala em cerca de 100 mil pessoas que precisaram deixar as suas casas e dezenas de milhares que se refugiaram em outros países, principalmente nos que fazem fronteira com a Ucrânia, a exemplo da Polônia.
Para acompanhar mais análises, assista na íntegra à entrevista do Café do MyNews desta sexta-feira (25):