Estratégia já foi usada em outros momentos de agitações e visa a evitar uma escalada da crise nos quartéis
por Juliana Braga em 05/06/21 17:10
Com a decisão de não punir o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o Alto Comando do Exército se prepara para evitar a multiplicação de episódios de insubordinação. Pazuello, general da ativa, participou de uma manifestação ao lado do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, o que é proibido pelo regimento. O plano dos generais agora é tratar os próximos episódios de maneira exemplar e muito mais severa.
Com isso, pretendem deixar claro que a situação de Pazuello é particular, porque envolve o presidente da República. O primeiro que sair da linha, receberá uma “pancada”, dizem. Se for necessário e houver mais de um episódio, as punições podem ir escalando.
A estratégia já foi utilizada em outros momentos de agitação nos quartéis. Quando o então capitão Jair Bolsonaro foi preso, em 1987, havia um forte clima de insatisfação com os baixos salários e a defesa do retorno do regime militar. À época, o capitão Luís Fernando Valter de Almeida invadiu a prefeitura de Apucarana (PR) com mais 50 homens. Foi condenado a um ano e meio de cadeia. E as agitações se esfriaram.
Agora, alguns generais avaliam que o problema poderia ter sido evitado com a punição do próprio Pazuello e classificam como equivocada a decisão do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Para esses oficiais, Pazuello tinha de ter sido punido para manter o Exército como uma instituição de Estado e preservar os princípios basilares da disciplina e da hierarquia. Uma advertência teria sido suficiente, dizem.
Esses oficiais citam o exemplo do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Em 2015, em uma palestra, ele fez críticas ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff e disse ser necessário “despertar para a luta patriótica”. Foi exonerado do Comando Militar do Sul e designado para a burocrática Secretaria de Economia e Finanças do Exército.
A decisão pela não punição veio para evitar um acirramento da crise. Punido, o ex-ministro da Saúde poderia ter pedido a reconsideração do ato. Nesse caso, Bolsonaro analisaria e, muito provavelmente, anularia a reprimenda. Nesse quadro hipotético, tiraria a autoridade do Comandante e do Alto Comando. A opção foi por não correr esse risco. O presidente não tem se furtado a esticar a corda.
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