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Amazonas entra em colapso com avanço da Covid-19; governo fará toque de recolher

Pacientes também serão levados para receber atendimento em outros estados

por Rodrigo Borges Delfim em 14/01/21 20:05

cemiterio amazonas
Cemitério Nossa Senhora Aparecida, o maior de Manaus, Amazonas. Estado é um dos mais afetados pela pandemia.
(Foto: Altemar Alcantara/Semcom)

Atualizado às 20h00 de 14.jan.2021

O Amazonas vê um cenário dramático se desenhando em razão do avanço da pandemia de Covid-19 e a adoção de medidas drásticas para tentar conter o número de casos da doença. A taxa de ocupação em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) é de 93% no estado.

A quase totalidade de leitos ocupados reflete o tamanho da pandemia no estado. Segundo boletim da última quarta-feira (13) da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), foram registrados 1.474 novos casos de Covid-19, totalizando 219.544 casos da doença no estado.

Só em Manaus estão 91.461 casos confirmados (48% do total no estado). Além da ocupação quase completa, nas UTIs, hospitais na capital amazonense relatam falta de oxigênio para os pacientes, elemento fundamental para atender os que sofrem com os sintomas do novo coronavírus.

Sem aparelhos de oxigênio para fazer a ventilação, algumas unidades de saúde estão apelando para a ventilação manual, o que torna a rotina de procedimentos arriscada, caótica e insuportável.

Tragédia anunciada

Em relato enviado ao Dinheiro na Conta desta quinta-feira, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mario Viana, disse que a situação de colapso no estado era temida e já havia sido alertada antes às autoridades.

“Diversos hospitais já estão com falta de oxigênio, e pacientes que necessitam estão sendo mantidos vivos pelo esforço dos profissionais médicos, enfermeiros e técnicos. Uma situação terrível que temíamos e denunciamos que isso poderia chegar. Faço um apelo às autoridades e aos profissionais de saúde que se unam de forma emergencial para encontrar solução para o problema. Transportar oxigênio de outros estados é uma operação de guerra para salvar vidas”, desabafou.

A falta de insumos e de assistência em razão da sobrecarga do sistema ameaça elevar ainda mais o número de mortos derivados da Covid-19.

De acordo com o jornal A Crítica, um dos principais do Amazonas, familiares em Manaus têm comprado oxigênio por conta própria para seus parentes internados na rede pública de saúde.

“Nós já entramos com uma ação na justiça contra a empresa para garantir que ela abasteça em quantidade suficiente a rede hospitalar para atender nossos irmãos acometidos da Covid-19”, disse o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), sobre o que está sendo feito para lidar com a situação atual.

O número de sepultamentos reflete o avanço da pandemia. A capital amazonense registrou 1.064 de 2 a 11 de janeiro, 17 a menos do que os 1.081 enterros realizados em todo o mês de dezembro, de acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana e Serviços Públicos.

Toque de recolher e envio de pacientes

Diante desse quadro, o governador do Amazonas anunciou medidas para tentar atenuar esse quadro, mas ainda sem data para terem início.

Uma delas é a transferência de pacientes com estado clínico considerado moderado e familiares próximos para outros estados. Eles deverão ser levados de avião e atendidos por hospitais em Goiás, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraíba e Distrito Federal.

Outra medida anunciada pelo governo estadual foi a imposição de um toque de recolher das 19h às 6h do dia seguinte, além da suspensão de transporte coletivo de passageiros por rodovias e rios – apenas o transporte de cargas segue liberado.

Também ao Dinheiro na Conta, o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, apontou o governador e o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), como responsáveis pela situação de colapso no sistema de saúde do estado. Ele disse que faltou aplicar medidas mais efetivas de distanciamento social.

“O número de casos é diretamente proporcional ao número de encontros. É gente na rua que pega a doença”.

Vecina também criticou a transferência de pacientes de Manaus para outros estados, afim de desafogar o sistema de saúde local. “Imaginar que seja solução tirar pacientes de hospital de Manaus para hospitais da região é inacreditável. Que o governo federal não seja capaz de organizar uma ponte aérea para levar oxigênio para os hospitais de Manaus é mais inacreditável ainda”.

Em nota enviada ao Dinheiro na Conta, o governo amazonense informou que junto ao governo federal está buscando cilindros de oxigênio em outras regiões do Brasil para Manaus por meio de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

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