Poder público e empresas devem se unir para geração de oportunidades
por Celso Athayde em 12/12/20 11:13
Muita gente pode ver uma pessoa que veio da dificuldade, e hoje goza de uma boa condição de vida, e recorrer ao velho chavão “Olha lá. É só se esforçar que a pessoa chega lá”. Quem reproduz esse discurso talvez não conheça o conceito correto de se esforçar, ou não saiba o que gira em torno do tal “esforço”.
Para essa pessoa que veio da base da pirâmide e atingiu o topo, é provável que muita gente que estava ao redor dela tenha aberto mão de muita coisa para, ao menos, contemplar uma infância e juventude dignas para o cidadão que ascendeu.
E a maior indagação a ser feita é quantas pessoas, que fizeram parte da infância desse alguém que subiu degraus na pirâmide, tiveram destino semelhante. Falo pela minha experiência: nenhum —ou quase nenhum— amigo de infância goza de um padrão de vida semelhante ao que eu tenho hoje.
Por isso que digo que as oportunidades devem ser democratizadas com todos. A Central Única das Favelas (CUFA) instituição que eu fundei, é um exemplo de que, com boas oportunidades, a meritocracia pode vir a valer, fazendo com que pretos e favelados conquistem o espaço que lhe são de direito.
Com a série de projetos que implementamos, ao longo das últimas duas décadas, geramos oportunidades e revelamos talentos nas mais diversas áreas — como Anderson Quack e Rodrigo Felha, no audiovisual; MV Bill, Nega Gizza e Kondzilla, na música; Manoel Soares, na comunicação; Patrick de Paula, no futebol, entre outros.
Mas esse dever não é só da CUFA. É de toda a sociedade. A democratização e a distribuição de oportunidades devem ser alavancadas pelo Poder Público, e é salutar que as grandes empresas embarquem nessa onda também, inclusive, criando programas internos para desenvolvimento de lideranças de funcionários que vêm da base da pirâmide.
Se tem alguma boa mensagem que esse tempo nefasto de pandemia nos deixou, é da cooperação entre poder público e grandes empresas para ajudar e fortalecer a base da pirâmide.
E o grande “case” disso é o Mães da Favela que implementamos. E, com essa fórmula, conseguimos impactar positivamente a vida de mais de 5 milhões de brasileiros, que tiveram um tempo de isolamento social menos sofrido e mais digno —e, que quando voltarem os tempos de normalidade, poderão buscar o seu lugar ao sol com mais força e mais afinco.
Com isso, como a pandemia, infelizmente, ainda não acabou, implementamos o Natal da CUFA, que repete a receita da união do poder público com grandes empresas em prol do bem-estar de quem vive na base da pirâmide.
Neste projeto, estamos tendo uma ajuda de grande valia do Fundo Social do Governo de São Paulo, e conseguindo fazer um fim de ano melhor pra muita gente.
Portanto, não existe uma meritocracia correta, que funcione de maneira justa, sem uma geração igualitária de oportunidades.
Não estou dizendo que todos têm de ganhar igual. Claro que quem trabalha mais, se qualificou e se preparou mais, merece uma boa remuneração e um padrão de vida melhor.
Mas só teremos uma sociedade pacífica, onde todos caminham juntos e para frente, quando democratizarmos as riquezas —através da educação, da saúde, da moradia, do trabalho e do empreendedorismo. Se não, vamos todos arcar com as consequências do caos.
Celso Athayde é empresário, autor e ativista social. Fundador da Central Única das Favelas (CUFA), é o atual CEO da Favela Holding, grupo de empresas focadas nas favelas e seus moradores
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