Músicas de Marília Mendonça se tornaram hinos de pessoas de todas as idades e de todos os gêneros. Cantora, compositora e instrumentista, a artista deu voz às mulheres na música sertaneja
por Julia Melo em 06/11/21 19:53
Marília Mendonça nasceu em Cristianópolis, Goiás, em 1995. A artista de 26 anos começou a compor ainda muito jovem, aos 12 anos, e escreveu sucessos para outros artistas sertanejos, como a canção “Cuida Bem Dela”, que ganhou o país na voz da dupla Henrique e Juliano. Lançou seu primeiro EP em 2014, e em 2016, o DVD de mesmo nome: “Marília Mendonça Ao Vivo”, gravado em estúdio, com destaque para as músicas “Infiel” e “Como faz com ela”.
Nessa época, ganhou o título de “Rainha da Sofrência” pelo conteúdo de suas canções. Depois disso, lançou um álbum por ano, fez turnês em todo o país e se tornou a artista mais ouvida no app de streaming de música Spotify, em 2019 e 2020.
Em 2019, a turnê do seu projeto “Todos os cantos” – que percorreu as capitais dos estados brasileiros para a gravação de clipes e ganhou o Grammy Latino pelo Melhor Álbum de Música Sertaneja – foi interrompida pela gravidez da cantora, que deu à luz em 16 de dezembro ao filho Leo, fruto do relacionamento com o também cantor sertanejo Murilo Huff. O bebê fará dois anos no próximo mês.
Seu atual projeto era com a dupla sertaneja Maiara e Maraisa, o “Patroas”, que foi iniciado durante a pandemia do Covid-19, através de lives das artistas.
No início dessa live, Marília Mendonça fala o que é ser brega para ela:
“Faço dos meus sentimentos exagerados o meu próprio palco. Eu sou amor e como diria Sidney Magal, o amor tem de ser brega. Deus me livre de um amor chique, discreto. Deus me livre de sentir morno e suave. Deus me livre de falar baixo, sorrir baixo, sonhar baixo, de volume baixo. O dicionário diz que brega, adjetivo, denota falta de gosto. Eu digo que não, eu gosto muito e profundamente. Tão profundo que grito aos quatro cantos os meus amores nem sempre reais. É por isso que é tão divertido ser brega como eu. Tudo é muito, tudo é grande, tudo me transforma. Tudo me revira e vira choro e vira música, vira grito, vira motivo, vira poesia, vira esperança. Se se entregar de corpo e alma assim é ser brega, muito prazer, me chame de Marília Mendonça”.
Marília Mendonça é o maior nome do feminejo no Brasil, movimento de mulheres na música sertaneja. Suas músicas se tornaram hinos de pessoas de todas as idades e de todos os gêneros. Ela falava sobre coração partido, a volta por cima pós-término, amantes que não queriam ser amantes, relacionamentos reais e complicados e, principalmente, sobre empoderamento feminino.
Cantora, compositora instrumentista, Marília Mendonça deu voz a milhares de mulheres que não conseguiam se ver num gênero musical historicamente masculino e machista. Era a protagonista de cada canção que escrevia e cantava.
“A grande compositora popular do Brasil”: é assim que o professor doutor do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da Universidade Federal de Pernambuco e pesquisador de música pop, perfomance e gênero, Thiago Soares, descreve Marília Mendonça.
O debate sobre o que pode ser ou não considerado MPB, Música Popular Brasileira, é antigo, mas com Marília Mendonça nem é preciso aprofundar. Para Soares, o que conta é a facilidade com a qual ela se conectava com as pessoas, o “falar fácil”. E até para quem acredita que a MPB só tem nomes como Caetano Veloso, Gal Costa e Elis Regina, precisa reconhecer que Marília Mendonça transitou sem medo pelo gênero. Um exemplo disso é a parceria com a própria Gal Costa, na música Cuidando de Longe (2018).
A artista também era uma personalidade política. Em 2018, publicou em suas redes sociais um #EleNão, mote da principal campanha contra o então candidato à presidência Jair Bolsonaro. Logo depois, apagou a postagem justificando que sofreu ameaças, mas sempre se colocou a favor de uma agenda progressista, mesmo sendo originária de um gênero que tem um histórico conservador e é forte em estados conservadores, como afirma Thiago Soares.
O professor lembra que a artista também teve forte adesão na comunidade LGBTQIA+. “Esse link político que Marília Mendonça trouxe, conectou muito ela com a comunidade LGBT”. Em 2020, quando foi acusada de transfobia após uma piada preconceituosa numa live, pediu desculpas em outra transmissão, em outubro de 2020, e convidou a mulher trans Alice Felis a gravar uma mensagem de conscientização sobre a transfobia.
Felis havia sido espancada no Rio de Janeiro e o caso repercutiu nas redes. Ela contou sobre a agressão e o preconceito contra pessoas trans para o diverso público que acompanhava Marília Mendonça naquele dia. E não era pouca gente. A sua live mais vista, em 8 de abril de 2021 teve nada menos que 3,31 milhões de visualizações – a mais vista na plataforma Youtube em todo o mundo.
Thiago Soares lembra que Marília Mendonça fazia esses deslocamentos dentro da música, atendendo a diversos públicos com diferentes posicionamentos e com composições que mostravam esse paralelo.
Em algumas canções, Marília era empoderada, mandando o namorado controlador embora. Na outra, implorava para ele ficar. Deu voz à amante arrependida, ao mesmo tempo em que dispensava o parceiro que traía. Segundo o pesquisador da UFPE, essas oposições a aproximavam das pessoas. “É uma perda irreparável”, afirma o professor Thiago Soares.
No Twitter, a assessoria de comunicação de Marília Mendonça e de Maiara e Maraísa publicaram uma nota de pesar:
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