Brasil tem posição histórica de referência em meio ambiente e precisa fazer esse resgate, pensando em longo prazo
por Márcio Coimbra em 12/12/20 11:23
Meio Ambiente é tema essencial na agenda brasileira. Tem sido assim historicamente. Pioneiro em criar uma estrutura governamental para sistematizar o setor e detentor de uma das mais importantes biodiversidades do mundo, o Brasil é um player relevante nesta matéria, servindo de referência ao longo dos anos em política ambiental por diversos governos.
Internacionalmente o país se tornou interlocutor respeitado no assunto logo depois de sediar a Rio 92, conferência internacional das Nações Unidas, que recebeu dezenas de chefes de Estado e de governo, assim como lideranças ambientais e ONGs para amplo debate sobre os rumos da questão ambiental. A partir daquele momento, o Brasil, que retomava sua democracia, adquiria legitimidade real para tratar do tema.
Fato é que a imagem internacional do Brasil dialogou de forma profícua com a questão ambiental ao longo dos anos, passando a um entrelaçamento natural. Tanto na esfera multilateral, como nas relações bilaterais, a agenda ambiental integrou-se em nossa política externa como tema relevante e estratégico. Isto significa, em outras palavras, que a percepção internacional do Brasil passou a transitar também por este assunto.
Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, é um político que trafega nestes dois campos. É alguém reconhecido pela habilidade internacional, com presença marcante no Comitê de Relações Exteriores durante os 36 anos em que serviu no Senado. Além disso encontrou nas matérias relacionadas com o meio ambiente uma agenda que pautou sua passagem pelo Parlamento e depois pela Casa Branca, no cargo de vice-presidente.
Isto significa que, neste novo momento político, nossa aproximação com Washington naturalmente passará pelos assuntos ambientais. Nossa diplomacia possui habilidade de sobra para lidar com esta mudança de agenda e fazer com que a relação profícua de cooperação e parceria que se estabeleceu em outras frentes, permaneça em sintonia também nesta questão.
Para isso, Bolsonaro precisará agir de forma prudente e sensata, trazendo a agenda ambiental para perto dos interesses internacionais do Brasil. Uma política de enfrentamento em questões ambientais pode acarretar prejuízos internacionais e uma revisão da postura brasileira torna-se essencial para evitar que o país se isole neste debate e possa abrir portas estratégicas na arena externa.
O novo governo em Washington pode incentivar o Brasil a retomar parcerias de sucesso na área de meio ambiente, uma extensão inteligente de uma parceria que já está em curso entre os dois países. Além disso, o Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, é apenas um dos exemplos de muitas iniciativas que podem ser resgatadas, assim como a relevância do país em fóruns como a Cúpula do Clima, reunião das Nações Unidas onde o Brasil não será ouvido este ano em razão da beligerância presidencial com o tema.
No entanto, onde muitos enxergam crise, sempre existe oportunidade. O Brasil, que aprofundou sua relação com Washington nos últimos anos, é detentor de um ativo fundamental para o governo que chega na Casa Branca. Ao negociar de forma propositiva, existe real possibilidade de colhermos excelentes resultados. Podemos discutir uma agenda ambiental, fortalecendo nossa posição histórica de referência neste tema e construir pontes para a discussão de uma série de assuntos estratégicos.
Assim como no período pós-Rio-92, seria inteligente voltar a liderar esta agenda como o mais importante player internacional em política ambiental. Uma estratégia de longo prazo com benefícios políticos e sociais, além dos reflexos positivos diretos na imagem internacional do Brasil.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. É também cientista político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos
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