Arquiteto de 92 anos manteve-se ativo até o mês passado, quando foi hospitalizado para tratar um câncer. Em 2006, tornou-se o segundo brasileiro – depois de Niemeyer – a receber Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitetura
por Myrian Clark em 23/05/21 18:56
O arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha realizou a maior parte de suas obras na cidade de São Paulo, dentre elas, o Museu Brasileiro da Escultura, o novo Sesc 24 de Maio, a reforma da Pinacoteca, o ginásio do Clube Atlético Paulistano, e os edifícios Jaraguá e Guaimbé.
Paulo recebeu em vida as mais relevantes condecorações no campo das artes: o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura; o Leão de Ouro de Veneza, pelo conjunto da obra; o prêmio Imperial do Japão; e a medalha de ouro do Royal Institute of British Art.
O arquiteto morreu na madrugada deste domingo (23) aos 92 anos. Ele tratava um câncer de pulmão.
“Foi um privilégio ter convivido com esse gênio. Ele era completamente fora dos padrões. Não só pelo trabalho, mas por sua ética profissional e do cotidiano. Não há nada que a gente faça que não pense nele,” conta o colega Fernando Viegas, cuja amizade data da época em que foi orientando de Paulo Mendes da Rocha na USP.
Para Viegas, que é também presidente da Associação Escola da Cidade, Paulo saiu de cena no auge. “Mesmo com 92 anos ele estava ativo, todo mundo esperando o próximo projeto dele. Há poucas semanas estava indo ao escritório, trabalhando, há obras dele que estão em andamento, como o Cais das Artes, em Vitória”. Em relação ao papel político do arquiteto, Viegas explica que ele o exerceu através de cada oportunidade de trabalho.
“Construiu um discurso sobre o nosso lugar americano no mundo que contagiou toda a América Latina. Era incansável na atuação para transformar o mundo. Um crítico da experiência colonialista e um defensor permanente da revisão do papel que a América, como continente, poderia exercer na reconfiguração de um mundo pós-colonial”, explica.
Paulo Mendes da Rocha foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Em 1969 foi cassado junto com outros 64 professores da universidade pelo governo militar. Não pôde mais dar aulas, mas as retomou em 1980, com a anistia. “Ele sempre soube se renovar. Estabeleceu vínculos e parcerias com os mais velhos, como Niemeyer, Afonso Eduardo Reidy e Vilanova Artigas, e construiu uma continuidade de discussões e conversas com os mais novos”, diz Viegas. Em 2015 começaram as obras do mais importante projeto de Paulo Mendes da Rocha no exterior, a sede nova do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa. Portugal tem uma coleção incrível de carruagens e o museu abriga estas obras. “O governo português o chamou porque ele é uma referência: um intelectual, um pensador e um inventor”, diz Viegas. Paulo Mendes deixa a mulher, Helene, e os filhos, Renata, Guilherme, Paulo, Pedro, Joana e Naná.
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