Cultura

Mudança de tom

O que levou Donald Trump a recuar e admitir ‘transição pacífica’ nos Estados Unidos

Impeachment e emenda na Constituição são medidas cogitadas para removê-lo do cargo

por Rodrigo Borges Delfim em 08/01/21 09:10

O presidente dos EUA, Donald Trump, que deixa a Casa Branca no próximo dia 20 de janeiro
O presidente dos EUA, Donald Trump, que deixa a Casa Branca no próximo dia 20 de janeiro.
(Foto: Shealah Craighead/Casa Branca)

Poucos dias após incitar apoiadores a invadir o Congresso dos Estados Unidos, o ainda presidente Donald Trump deu uma guinada em seu discurso e adotou um tom bem mais moderado. E o que pode explicar essa mudança?

Embora ainda insista na acusação sem provas de que a eleição presidencial de novembro foi fraudada — na qual perdeu a reeleição para o democrata Joe Biden — , o republicano agora diz que deixará a Casa Branca no próximo dia 20 de janeiro, dando lugar a seu sucessor.

“Agora, o Congresso certificou os resultados. Uma nova administração tomará posse em 20 de janeiro. Meu foco se volta para garantir uma transição de poder pacífica, ordenada e contínua. Este momento exige cicatrização e reconciliação”, disse Trump em vídeo publicado na noite de quinta-feira (7) no Twitter.

Foi a primeira mensagem do líder americano na rede social após um bloqueio temporário de seu perfil. Postagens que continham acusações sem provas de fraude na eleição americana foram apagadas.

Os perfis do republicano no Facebook e no Instagram, no entanto, foram suspensos após os atos de violência contra o Congresso e assim devem permanecer pelo menos até a posse de Joe Biden.

Razões do recuo

O recuo, no entanto, veio após a repercussão negativa de sua postura antes, durante e logo depois da invasão ao Capitólio. Membros do próprio Partido Republicano, incluindo antigos defensores de Trump, se voltaram contra ele, como o vice-presidente Mike Pence.

Grandes jornais, como Washington Post e The Wall Street Journal, defendem a saída de Trump do cargo, mesmo faltando poucos dias para ele passar o bastão a Biden. Líderes internacionais, incluindo aqueles com maior interlocução com o republicano, também fizeram críticas pesadas.

“Na medida em que o presidente encorajou as pessoas a invadirem o Capitólio e consistentemente lançou dúvidas sobre o resultado de uma eleição livre e justa, acredito que isso foi completamente errado”, disse em coletiva o premiê britânico, Boris Johnson, em coletiva na quinta-feira.

O coro foi reforçado pela chanceler alemã, Angela Merkel, também na quinta-feira. “Uma regra básica da democracia é que depois das eleições há vencedores e perdedores. […] Lamento muito que o presidente Trump não tenha reconhecido sua derrota desde novembro. As dúvidas sobre o resultado da eleição tornaram os eventos da noite passada possíveis.”

“Trump recuou porque ele percebeu claramente que a situação dele ficou muito complicada. Nunca o Congresso americano foi invadido por cidadãos norte-americanos”, observou o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da USP, Felipe Loureiro.

Impeachment à vista?

A bancada democrata no Congresso dos Estados Unidos e até mesmo integrantes do Partido Republicano defendem que Trump não conclua o mandato. São cogitados principalmente um processo de impeachment e uma aplicação da 25ª Emenda à Constituição. Ela prevê a substituição do presidente pelo seu vice quando este e os demais integrantes do gabinete presidencial entendem que o ocupante da Casa Branca não reúne mais condições de exercer o cargo.

O próprio Mike Pence, atual vice-presidente, descarta levar adiante essa hipótese, mesmo estando rompido com Trump após o ato no Capitólio.

Loureiro vê como necessária uma punição exemplar para Trump, como forma de os Estados Unidos virarem a página, seja do ponto de vista político quanto criminal. “[É preciso] deixar claro que é inadmissível que um presidente instigue seus próprios apoiadores a irem contra a democracia. Ao meu ver seria muito importante o Trump ser penalizado claramente pelo que ele fez”.

“Com toda certeza ele sentiu aí a pressão de que a 25ª Emenda americana pudesse ser acionada pelo Senado”, acrescentou o economista-chefe da Valor Investimentos, Paulo Duarte, durante o Morning Call desta sexta-feira (8).

No entanto, Duarte aponta que o pouco tempo de mandato que ainda resta a Trump é algo que pode salvá-lo de um processo de remoção do cargo.

“Estando aí no apagar das luzes do governo Trump, será que valeria a pena o desgaste de se conduzir esse processo? Com esse abrandamento devemos ver um final de governo triste. A sensação que fica é que foi uma gota d’água de algumas pessoas do Partido Republicano que condenaram o Trumpismo”.

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