Apenas cinco estados já receberam vacinas e iniciaram seus processos de imunização contra a Covid-19
por Rodrigo Borges Delfim em 18/01/21 20:36
No dia seguinte à aprovação do uso das primeiras vacinas para uso emergencial no Brasil foi marcado por atrasos na distribuição das doses já disponíveis aos estados. E também por novas queixas do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, contra a imprensa brasileira.
Tanto as vacinas a serem produzidas pelo Instituto Butantan (Coronavac) quanto pela Fiocruz (Oxford/AstraZeneca) receberam, por unanimidade, o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No entanto, somente a Coronavac está disponível para uso imediato pelo programa de imunização brasileiro.
Ao contrário da previsão inicial, apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás e Piauí iniciaram até o final desta segunda-feira (18) a vacinação de suas populações. Além deles, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Tocantins já receberam a Coronavac, mas ainda não começaram as aplicações.
Os atrasos se devem a alterações repentinas nos horários dos voos de aeronaves comerciais e da FAB (Força Aérea Brasileira) e por atropelos na comunicação. Os contratempos tem gerado críticas dos governadores e autoridades de saúde locais.
Quebrando um silêncio de mais de 24 horas sem se pronunciar, o presidente Jair Bolsonaro mudou o tom crítico sobre a imunização, trocando a menção da Coronavac de “vacina da China” para “vacina do Brasil”.
Também no sentido de mudar o tom, o ministro Pazuello passou a dizer que a pasta nunca recomendou “tratamento precoce” contra a Covid-19.
“Não confundam o atendimento precoce com definição de que remédio tomar. Por favor, compreendam isso e não coloquem mais errado. Nós defendemos e incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o posto de saúde, procure o médico. O médico faz o diagnóstico clínico desse paciente, esse é o atendimento precoce”, disse o ministro durante coletiva nesta segunda.
A fala, no entanto, contradiz o fato de, no sábado (16), o Twitter ter ocultado uma publicação da pasta que falava justamente sobre isso por considerá-la “enganosa” e “potencialmente prejudicial”.
Para o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, essa mudança de discurso do governo se dá pelas circunstâncias e pela existência de fato de imunizantes aprovados pelas autoridades técnicas brasileiras.
“O fato novo se concretizou. Temos uma vacina produzida pelo Instituto Butantan e que vai ser o carro-chefe do programa de imunização brasileiro, pelo menos por um curto período”, disse durante participação no Dinheiro na Conta. “Não é propriamente uma mudança radical, ainda permanece uma certa disputa em torno do tema”, pondera o cientista.
Cortez também vê influência nessa moderação de tom em função da visão mais negativa que Bolsonaro e seu governo vêm tendo junto a população brasileira. Pesquisa divulgada nesta segunda pela XP/Ipespe indicou que a reprovação do presidente subiu de 35% para 40%.
“De alguma maneira, o auxilio emergencial protegeu Bolsonaro dos efeitos negativos da pandemia e da retração econômica”, observou o cientista político. A medida, criada pelo governo em resposta à pandemia, foi descontinuada em dezembro de 2020.
Aos problemas de atrasos se soma ainda a frustração quanto à vinda de 2 milhões de doses da vacinas desenvolvidas pela Oxford/AstraZeneca produzidas pelo Instituto Serum, na Índia.
A imprensa do país asiático tem noticiado que, após atender o mercado interno, a Índia vai fornecer imunizantes a nações vizinhas por razões diplomáticas e geopolíticas.
Ainda não há uma previsão de quando o Brasil receberia a encomenda solicitada junto ao instituto indiano.
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