Se a pandemia de covid-19 impossibilita a celebração do Carnaval de 2021 nas ruas, o mesmo não se pode dizer sobre as reflexões a respeito do simbolismo da festa. Afinal, “recordar é viver” — sobretudo quando as possibilidades de celebrar são limitadas pelo isolamento social.
Foi com esse intuito que, nesta segunda-feira (15) de Carnaval, com as ruas e avenidas de todo o Brasil atipicamente vazias, as jornalistas Juliana Braga e Gabriela Lisbôa receberam no Almoço do MyNews o historiador e escritor Luiz Antonio Simas.
Autor de livros como Dicionário da História Social do Samba e O Corpo Encantado das Ruas, Simas destacou, para além da grandeza do Carnaval enquanto festa de rua, o papel do Carnaval como “a mais politizada das nossas festas” — o que, segundo o escritor, é reafirmado em diferentes momentos históricos.
“Quando a gente vai estudar os carnavais da década de 1880, eles, por exemplo, são carnavais que colocam a abolição da escravatura na ordem do dia”, ressalta. A abolição ocorreu em 1888.
Já no século passado, o destaque de Simas é para o período que marcou a fase final da ditadura. “Os carnavais da década de 1980, por exemplo, traziam a bandeira da redemocratização num contexto de desmonte da ditadura militar”, diz. “Diversos enredos de escolas de samba têm uma função pedagógica de discutir algumas questões ligadas ao Brasil”.
Desse modo, para o historiador, o Carnaval não é uma celebração alienada. “O Carnaval é uma festa politizada, de transgressão e de afirmação da vida (…) Por isso é que eu digo que quem ama, de fato, o Carnaval, este ano está em casa. Porque é a vida que tem que ser afirmada”, destaca.