Sem a sombra de Trump, Bolsonaro tenta colocar o Brasil como exemplo mundial de conservadorismo e “família tradicional”
por Vitor Hugo Gonçalves em 05/01/21 18:53
Como fica a diplomacia brasileira sob o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) com a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos e a saída dessa referência a partir da posse de Joe Biden? Para o jornalista Jamil Chade, especializado em acompanhar a política externa brasileira, a troca de comando na Casa Branca não deve gerar, pelo menos de imediato, uma mudança nesse posicionamento global.
Pelo contrário, o Brasil, sob a administração de Bolsonaro, vem buscando a consolidação como o novo arauto do ultraconservadorismo global.
“A política externa brasileira hoje é um braço extremamente atuante de uma política doméstica ultraconservadora”, resume Chade durante participação no Almoço do MyNews desta terça-feira (5).
Essa tendência é facilmente notada nos últimos anos, com o governo brasileiro atuando de maneira muito coordenada com outros países para evitar a aprovação de textos na ONU, OMS (Organização Mundial de Saúde) e em outras instituições, que falam de direitos reprodutivos, acesso à educação sexual, entre outros assuntos.
“Isso tudo tem um objetivo: não dar nenhuma brecha para que o aborto, eventualmente, seja reconhecido como prática legítima”, exemplifica
A recente legalização do aborto na Argentina, bem como as reações diplomáticas do governo brasileiro, exemplificam a conjuntura mundial de politização das mais variadas estruturas sociais.
“A agenda religiosa, conservadora, no debate mundial, não vai desaparecer com a saída de Trump. Nos últimos anos, governos trouxeram de volta para as negociações internacionais temas que compreendem essa agenda, abrangendo temas como religião, cultura e uma espécie de freio à expansão de direitos, especificamente dos direitos das mulheres”.
A religião, orientada dentro dos valores morais de ‘família tradicional’, caracteriza-se, segundo o jornalista, como uma das principais representantes do ocidentalismo: “defender o cristianismo, defender os valores ocidentais, tudo isso significa, na versão desses governos, endurecer regras e leis em questões sociais, na saúde e na educação”.
Chade ressalta ainda que esse tipo de atuação encontra respaldo não só político, mas financeiro mundo afora. “A agenda é sólida, porque tem o apoio de muitas entidades religiosas pelo mundo, e essas entidades têm muito dinheiro e muita influência para manter essas pautas no centro do debate”.
Questionado sobre a postura federal frente aos programas ambientais e a relutância internacional em preservar a Amazônia, o jornalista aponta que o meio ambiente é um tema no centro da agenda global e que não há como fugir dele.
“O Brasil de certa forma se escondida na sombra do Trump frente ao mundo. Biden vai assumir uma postura diferente, complicando a história para o Brasil, que certamente será pressionado”, comenta Chade, que no entanto descarta a possibilidade de boicotes financeiros – ações que podem ser, “tranquilamente”, contornadas judicialmente.
“A derrota que o Brasil já sofreu, e que não será revertida no curto prazo, foi na batalha pelos corações e mentes dos consumidores. Na Europa, entre os jovens, há a mentalidade ‘meu voto é meu euro’, na qual o consumo é direcionado para empresas que não violem determinados princípios, e hoje a questão ambiental está no centro.”
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