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Quem, afinal, manda na defesa brasileira?

A troca iminente no Ministério da Defesa levanta debates sobre soberania, democracia e o papel das Forças Armadas em um Brasil cada vez mais exposto às ambições geopolíticas e aos desafios institucionais.

Em 12/01/25 23:26
por Mara Luquet

Jornalista, fundadora e CEO do canal MyNews, considerado pelo Google referência mundial em jornalismo no YouTube. Foi colunista de finanças pessoais da TV Globo e CBN, editora do Valor Econômico e criadora do caderno Folhainvest, da Folha de S.Paulo.

Se Donald Trump, em suas ambições geopolíticas, fosse além de suas ideias mirabolantes como comprar a Groenlândia, dominar o Canal do Panamá ou até mesmo anexar o Canadá, e decidisse incluir o Brasil em sua lista de desejos, o que seria de nós? Sob o olhar voraz de Trump, nossas riquezas naturais e estratégicas – da Amazônia ao agronegócio – poderiam ser vistas como peças valiosas em um grande tabuleiro global. Mas, além do saque às nossas riquezas, como ficariam nossa soberania e nossa democracia? Um Brasil hipoteticamente sob as ambições de Trump expõe não só a fragilidade de nossos recursos frente a interesses estrangeiros, mas também o quanto a nossa autonomia, na prática, pode ser vulnerável.

E aí surge a pergunta inevitável: quem, afinal, manda na defesa brasileira? Com Múcio já tendo pedido para sair, fica o questionamento sobre quem de fato está disposto – e preparado – para resguardar os interesses do Brasil. Na bolsa de apostas para suceder Mucio estão dois generais, Edson Pujol e Santos Cruz, ambos já serviram ao governo Bolsonaro e pediram para sair porque se recusaram a entrar no jogo político do ex-presidente com as Forças Armadas e ataques ao sistema democrático.  Há também um brigadeiro, Francisco Joseli Camelo, hoje ministro do Supremo Tribunal Militar, e que já serviu como piloto da ex-presidente Dilma e do próprio presidente Lula. Muitos civis também são alvos de especulação para o cargo, inclusive o vice-presidente Alckmin. E dessas apostas pode sair tudo, inclusive nada, porque o presidente Lula gostaria muito que Mucio permanecesse.

A mudança no Ministério da Defesa traz uma reflexão importante e uma coisa é fundamental: que o novo ministro consiga restabelecer a ordem institucional e dê continuidade ao trabalho que vem sendo feito. A saída do atual ministro é mais resultado do fogo amigo do que de problemas em sua gestão. Mucio está cansado da artilharia petista e prefere desfrutar de sua aposentadoria em Recife. Não julgo. Entendo bem.  

Fosse o escolhido um militar da reserva com perfil de bom entendimento político e liderança militar, seria uma marca fortíssima de valorização  institucional, de reforço do profissionalismo,  reforçaria a imagem da instituição militar internamente e também junto à sociedade, isolaria e desarmaria os radicais extremistas da direita e da esquerda. Acontece que o comportamento dos generais Braga Neto e Paulo Sérgio como ministros da Defesa foi muito politizado e “bolsonarizado”; isso queimou a chance de militares no Ministério da Defesa.

Por isso, há o sentimento de que o presidente tenha preferência por um civil. Tem gente muito bem preparada, mesmo que seja um nome do PT, dependendo do perfil, será aceito normalmente. O próprio Aldo Rebelo, que sempre foi comunista, foi um ministro da Defesa com ótima aceitação. Já o vice-presidente Geraldo Alckmin seria um sinal de prestígio para os militares. 

O problema é que, como disse Ricardo Cappelli, ex-ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional da presidência, tem setores da esquerda que acham que é possível ter um país livre, altivo e soberano sem as Forças Armadas. “Tem uma parte da esquerda financiada por ONGs bilionárias que querem atacar a soberania do nosso país. Eu defendo as Forças Armadas, defendo o Exército brasileiro, não há registro no mundo de país livre e soberano sem Forças Armadas fortes”, disse Cappelli recentemente no programa Segunda Chamada no canal MyNews. A íntegra está aqui. e o trecho você conferi aqui.

É bom ficar de olho no discurso de posse do novo ministro da Defesa. Seria interessante ele contemplar alguns pontos como:

  • separação, perfeita distinção entre o direito civil da livre escolha política, eleitoral e as obrigações institucionais;
  • conhecimento e compreensão das características dos sistemas de governos, regimes, correntes políticas e a importância da neutralidade, da não participação institucional na prática política;
  • defender os princípios da democracia e o compromisso com os princípios e não com a prática política e o discurso político circunstanciais;
  • mostrar os projetos que nasceram e/ou que são apoiados pelo governo – tem muitos projetos e aquisições  excelentes de tecnologia moderna como drones, mísseis etc.  Esse tipo de discurso e esses  exemplos mostram consideração  e valorização  das Forças Armadas pelo governo;
  • nomear um Ajudante de Ordens (a função  está vaga), mostrando confiança e valorização  institucional. É uma medida importante que mostra compreensão institucional recíproca.

O ex-presidente Bolsonaro explorou a imagem militar, o posto de capitão (da reserva) arrastou as Forças Armadas, principalmente o Exército, para o jogo político, de forma totalmente inconsequente. Ninguém fez tanto mal aos militares como Jair Messias Bolsonaro.

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