Operação Contragolpe, deflagrada nesta semana, revelou plano envolvendo militares e aliados de Bolsonaro para impedir a posse do novo governo em 2023
por Camilla Lucena* em 21/11/24 16:31
Jornalistas aguardam em frente à Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital federal | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na terça-feira (19), a Operação Contragolpe, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. As investigações revelaram um plano, envolvendo militares das Forças Especiais e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para, supostamente, impedir a posse do novo governo em janeiro de 2023 e assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo seria dar um golpe de Estado e restringir a atuação do Poder Judiciário.
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Durante as investigações, a PF encontrou um arquivo de word intitulado “Punhal Verde e Amarelo”, de suposta autoria do general da reserva Mário Fernandes, que ocupou cargo da Secretaria-Geral da Presidência da República durante o governo Bolsonaro. O documento tratava do planejamento “voltado ao sequestro ou homicídio” de Lula, Alckmin e Moares.
“Trata-se de um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco. O plano dispõe de riqueza de detalhes, com indicações acerca do que seria necessário para a sua execução, e, até mesmo, descrevendo a possibilidade da ocorrência de diversas mortes, inclusive de eventuais militares envolvidos”, concluiu a corporação.
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Segundo a PF, os envolvidos teriam planejado os atos golpistas durante reuniões com figuras do alto escalão da gestão do ex-presidente. Indícios apontam também para a criação de um gabinete paralelo destinado a administração do país após a planejada concretização do golpe.
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi ouvido nesta quinta-feira, às 14h. A audiência foi marcada para esclarecer contradições e omissões de Cid apontadas pela PF após depoimento prestado na terça-feira (19). Em 2023, o militar assinou acordo de delação premiada e se comprometeu a revelar os fatos que teve conhecimento durante a antiga gestão.
Até o momento, quatro militares do Exército e um agente da PF foram presos.
De acordo com o relatório da investigação, Mário Fernandes entrou em contato com o coronel Roberto Raimundo Criscuoli, em 1º de novembro de 2022, demonstrando interesse em contatar o então superintendente da Polícia Federal do Distrito Federal, Victor Cesar Carvalho dos Santos.
No mesmo dia, Fernandes também informou Hélio Osorio Coelho sobre o assunto e enviou mensagens de áudio para o capitão Sérgio Rocha Cordeiro para informá-lo sobre as tentativas de contato com o coronel Marcelo Câmara e para lhe enviar supostas provas capazes de influenciar decisões estratégicas. Fernandes manifestou expressamente sua preocupação com a desistência de alguns envolvidos no plano.
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Entre os dias 1º e 10 de novembro de 2022, Fernandes conseguiu contatar Marcelo Câmara e lhe enviou mensagens de áudio sobre um levantamento de informações que seriam usadas para atacar o pleito eleitoral. Neste meio tempo, no dia 9, Fernandes elaborou o documento “Fox_2017.docx”, com detalhes do plano para sequestrar ou assassinar Moraes, Lula e Alckmin. O arquivo foi impresso no Palácio do Planalto e levado para o Palácio da Alvorada.
No dia 12 de novembro de 2022, o major Rafael Martins de Oliveira, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e Mauro Cid se reuniram na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro em 2022. O objetivo do encontro era planejar operacionalmente a atuação dos “kids pretos” na tentativa de golpe.
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Em 15 de novembro, Oliveira enviou um documento, protegido por senha, intitulado “Copa 2022”, para Cid. O documento demonstrava estimativas de gastos destinado a financiar as ações clandestinas necessárias para a execução do plano durante os meses de novembro de dezembro de 2022.
Durante as primeiras semanas de dezembro, Fernandes se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e manteve contato, entre os dias 9 e 13 daquele mês, com apoiadores reunidos em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, para resolver problemas relacionados aos acampamentos.
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A execução da ação clandestina, apelidada “Copa 2022”, teve início no dia 15 de dezembro. Durante a última quinzena do mês de dezembro de 2022, Marcelo Câmara e Mauro Cid monitoraram o itinerário e a localização de Alexandre de Moraes.
Em suposto áudio enviado a Mauro Cid, Fernandes informou ao cúmplice que Bolsonaro afirmou que a “ação” poderia ocorrer até o último dia de seu mandado, ou seja, dia 31 de dezembro de 2022.
*Sob supervisão de Sofia Pilagallo
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