Metade da população do Afeganistão está hoje proibida de existir. Foi o que afirmou a rapper afegã Sonita Alizadeh, em entrevista exclusiva ao MyNews, na semana em que a retomada do poder pelo Talibã completou três anos.
Em 15 de agosto de 2021, o grupo destituiu o então presidente do país, Asharf Ghani, assumiu o controle da capital, Cabul, e voltou ao poder depois de mais de 20 anos de ocupação americana. Desde então, o país vive à sombra de um regime fundamentalista, em que as mulheres são as principais afetadas.
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“As mulheres lutaram pelos seus direitos por mais de 20 anos para conquistar a pouca liberdade que tinham antes”, disse Sonita, ressaltando que, antes da retomada do poder pelo Talibã, elas podiam ir à escola, ter acesso ao ensino superior, trabalhar e frequentar espaços públicos. “Hoje, as mulheres estão proibidas de participar da vida pública. Basicamente, metade da população está proibida de existir.”
O Afeganistão vive hoje uma crise humanitária que evoluiu para uma crise de saúde pública. O índice de suicídio entre mulheres aumentou exponencialmente depois da volta do Talibã.
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Dados coletados de forma independente por profissionais da saúde do país, e compartilhados com repórteres do jornal afegão Zan Times, apontam que Afeganistão se tornou um dos únicos países do mundo onde mais mulheres do que homens morrem por suicídio. Das 11 províncias pesquisadas pelos profissionais de saúde, apenas em uma delas — Nimruz — os homens foram responsáveis pela maioria das mortes e tentativas de suicídio.
Uma crise de ordem econômica também assola o Afeganistão. O país tem “crescimento zero”, enquanto a população enfrenta a pobreza e o desemprego. O Talibã herdou uma administração consolidada, mas afundou a economia do país, já que a maioria das demais nações não reconhece a legitimidade do governo talibã e cortou laços com o atual regime.