Opinião

SEGUNDA CHAMADA

‘PL antiaborto é parte de projeto político de poder com origem nos EUA’, diz historiador

Para João Cezar de Castro Rocha, lideranças cristãs e conservadoras inspiram-se na chamada 'teologia do domínio'

por Sofia Pilagallo em 20/06/24 16:02

Afonso Marangoni recebe João Cezar de Castro Rocha no Segunda Chamada de quarta-feira (19)

O Projeto de Lei 1904/24, que pretende equiparar qualquer aborto realizado no Brasil após 22 semanas de gravidez ao crime de homicídio, é parte de um projeto político de poder que teve origem nos Estados Unidos. Foi o que afirmou no Segunda Chamada de terça-feira (19) o historiador, jornalista e escritor João Cezar de Castro Rocha. Para ele, este projeto é baseado no nacionalismo cristão norte-americano e na chamada “teologia do domínio”, ideologia que busca submeter a vida pública ao domínio dos cristãos.

Rocha explica que esse projeto político tem início nos EUA, em 1980, e se consolida em torno da candidatura do republicano Ronald Reagan, que derrotou o democrata Jimmy Carter na eleição daquele ano. Foi a primeira vez na história do país que uma massa significativa de lideranças evangélicas se uniu para protestar contra a ideia de que religião e política não deveriam andar juntos, sob a justificativa de que o Estado é laico.

Leia mais: ‘Criança não é mãe’: entenda o que está em jogo por trás do Projeto de Lei 1904/24

“O PL 1904/24, do deputado Sóstenes Cavalcante, dá as mãos com a espantosa e inconstitucional declaração de Michelle Bolsonaro que, em 25 de fevereiro deste ano, durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo, disse: ‘Por um tempo nós fomos negligentes a ponto de falarmos que não se poderia misturar política com religião e o mal tomou, o mal ocupou o espaço. Chegou agora o momento da libertação’. Esse projeto político levou ao apoio a Donald Trump, nos EUA, e a Jair Bolsonaro, no Brasil”, afirmou.

Segundo Rocha, a implementação desse projeto político nacionalista e cristão consistiria em dois passos. Primeiro, multiplicar o número de fiéis. Depois, partir para a etapa do domínio — submeter a política à religião, e considerar que a verdadeira lei se encontra na Bíblia.

Embora essa teoria possa parecer delirante para algumas pessoas, episódios recentes mostram que o Brasil está enveredando para esse caminho, avalia o historiador. Ele cita, como exemplo, as declarações feitas pelo deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), durante participação no programa GloboNews Mais, em 13 de junho. Na ocasião, confrontado com pesquisas que mostravam o repúdio da população em relação ao PL 1904/24, ele disse: “A minha pesquisa [a Bíblia] é mais precisa que a sua.”

“O nacionalismo cristão e a teologia do domínio nada têm a ver com a fé honesta de 40 milhões de evangélicos no Brasil”, ressalta Castro Rocha. “Trata-se de um projeto de liderança. Vou dar nomes aqui: Silas Malafaia [pastor evangélico e líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo], Marcos Feliciano [pastor evangélico, fundador e líder da Catedral do Avivamento e deputado federal filiado ao PL], Sóstenes Cavalcante [deputado federal filiado ao PL e autor do PL 1904/24] e outros. São líderes oportunistas que servem uma cartilha do nacionalismo cristão e da teologia do domínio.”

Ele acrescenta: “Esse Projeto de Lei, por mais que seja uma aberração, não é um fato isolado. Ele está dentro de um quebra-cabeça, um projeto de poder político assustador, e que tem até protagonista para o futuro: Nikolas Ferreira [deputado federal filiado ao PL e uma das principais lideranças jovens e conservadoras da atualidade]”.

Assista ao Segunda Chamada de terça-feira (19):

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