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Brasil cresce em meio a juros altos e desafia a lógica econômica. Como?

Fenômeno pode ser explicado por diversos fatores, entre eles o peso das exportações de commodities e o papel do setor agrícola e mineral

por Deysi Cioccari em 17/09/24 16:18

Brasil registra crescimento econômico em meio a juros altos | Foto: Pixabay

A notícia intitulada “Impressiona o Brasil crescer com juros tão altos”, publicada no Estadão com a fala do economista global Robert Sockin, do Citigroup, levanta questões cruciais sobre a resiliência da economia brasileira frente a um cenário de política monetária apertada, com taxas de juros que se mantêm elevadas. No entanto, o Brasil continua a registrar crescimento, um fato que desafia o convencionalismo econômico. Isso pode ser explicado por diversas teorias econômicas, incluindo aquelas que exploram a interseção entre política monetária, expectativas de mercado e fatores estruturais da economia.

O economista John Maynard Keynes (sempre ele!) propôs que, em situações em que a demanda agregada é baixa, o aumento dos juros tende a desestimular o investimento e o consumo. No caso do Brasil, porém, o efeito não tem sido tão claro.

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Um dos fatores que pode estar contribuindo para esse cenário paradoxal é o peso das exportações de commodities e o papel do setor agrícola e mineral, que continuam a impulsionar a economia brasileira, como argumenta Celso Furtado em estudos sobre o desenvolvimento econômico de base exportadora. O Brasil, ao manter uma balança comercial robusta e continuar exportando para mercados como a China, encontra na demanda externa um amortecedor contra os efeitos de juros altos.

A resiliência da economia brasileira pode estar associada também a uma estrutura financeira relativamente sólida. Nela, os bancos se mantêm capitalizados e o sistema bancário, como um todo, está preparado para lidar com choques de política monetária, algo que autores como Hyman Minsky estudaram em relação à estabilidade financeira. Mesmo com altos níveis de juros, o mercado financeiro brasileiro tem demonstrado adaptabilidade, utilizando instrumentos como o crédito subsidiado para segmentos estratégicos e programas de auxílio para pequenos empreendedores, que mantém o ciclo de negócios ativo.

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Há ainda uma explicação complementar, embasada a partir das ideias do economista Joseph Schumpeter. Segundo ele, mesmo em momentos de recessão ou desaceleração, economias que conseguem fomentar a inovação e a mudança tecnológica podem manter um ritmo de crescimento. No Brasil, há sinais de que setores como o de tecnologia da informação, fintechs e energias renováveis continuam a avançar, independentemente das dificuldades impostas pela política monetária.

Por fim, vale destacar que a trajetória de crescimento do Brasil com juros altos também revela limitações no curto prazo. De acordo com Milton Friedman, os efeitos plenos de uma política monetária podem levar tempo para se materializar.

Embora a economia esteja crescendo agora, as expectativas para 2025, como mencionado por Robert Sockin, apontam para uma possível desaceleração. Isso destaca a necessidade de ajustes nas políticas fiscais e monetárias para garantir um crescimento sustentável a longo prazo, sem que o país sofra os efeitos adversos de uma inflação persistente ou de uma retração severa do consumo e do investimento privado.

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